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É revendo filmes como The Howling (1981) na idade adulta que fica claro que a mutação do homem na besta animal é a projecção das nossas próprias inseguranças e de outros fantasmas sexuais, quer sejamos nós homens ou mulheres. Quando o homem se transforma no lobo-homem no filme de Joe Dante, trata-se da representação metafórica da monstruosa erecção. O sonho deles é o temor delas. Reparem (no filme) no modo como o focinho do bicho irrompe da face humana. O macho uiva de prazer antecipado; a fêmea grita antecipando a dor. A situação inversa diz já respeito à angústia masculina face ao que se supõe ser uma predadora sexual. É algo para sempre irreconciliável: a capacidade de harmonizar as dimensões primitiva e sofisticada do ser humano. Talvez só nos roubando a faculdade de fantasiar? Mas para isso teríamos também de deixar de ver cinema. Atentem por último na frase do cartaz e pensem: de que é que verdadeiramente nunca deixamos de ter medo? Da realidade...