1.31.2012

Triple crown

























Os blues e a verdade concreta das palavras.

Um divã em Nova Iorque

























Quem está sentado no "divã" do psicólogo Paul Weston (o irlandês Gabriel Byrne) que não o próprio? Aquilo que no final da primeira temporada de In Treatment se tornara óbvio – não fugindo ao vector dominante da ficção televisiva norte-americana recente (recente mas em sentido amplo), esta é uma série que avança "descascando" a psicologia do protagonista, para dar a observar a vulnerabilidade que existe além da confiança e carisma aparentes –, fica de novo claro nos primeiros instantes da época seguinte, quando a Paul é anunciado, por parte do pai de um dos seus pacientes, que este lhe movera um processo judicial por negligência na terapia: que terá facilitado um acto de suicídio que talvez pudesse ser evitado.
Paul encontra-se pelo todo numa situação de grande fragilidade. Tem 53 anos, está divorciado e distante dos filhos e da mulher que continuam em Baltimore, tendo-se mudado para Brooklyn onde vive e recebe os pacientes. De cada vez que novo caso se lhe apresenta, o espectador deixa de se fixar sobretudo na situação em análise, antes na possibilidade desta reflectir aspectos da crise existencial do terapeuta. É como se a análise que Paul faz aos outros, e a que também ele de novo se sujeita às sextas-feiras – a série volta a organizar-se em blocos de cinco episódios, que correspondem aos dias da semana – com a supervisora Gina (Dianne Wiest, actriz que caso fosse inglesa de origem há muito lhe teria sido aplicado o prefixo real de Dame), fosse por nós exercida constantemente sobre ele.
O papel activo que In Treatment suscita da parte do espectador não deixa de ser tão mais surpreendente quanto se mantém a simplicidade do dispositivo original. É uma série onde apenas se conversa e isso é fascinante e raro.

1.30.2012

Morte e ressurreição












E vão três. Quando por alturas de Gran Torino (2008 parece tão distante) se anunciava que o filme teria a última aparição de Clint Eastwood à frente das câmeras, não era suposto que atrás delas se verificasse um eclipse quase equivalente. Fez o filme sobre Mandela a pedido do amigo Morgan Freeman. Fez a cortesia aos franceses e a uma espécie de boa consciência global em Hereafter. Filma agora a história do amor secreto entre dois homens que foram figuras-chave do FBI ao longo de um extenso período do século XX. De tanto esticar a agenda liberal o cinema de Clint Eastwood tornou-se uma caricatura de si mesmo. J. Edgar será o seu Aviador (2004), recordando a contribuição de Scorsese para o museu de cera das imagens em movimento. O que se seguirá? Um filme em 3-D? Para quando a aguardada ressurreição do Clint Eastwood realizador? Urge cada vez mais um "back to basics".

Make it up




















Ia escrever que não percebo a escolha de Leonardo DiCaprio (37 anos) para o papel de J. Edgar Hoover, que o obriga grande parte do tempo a ostentar uma maquilhagem pesadíssima para corresponder à idade da personagem do filme de Clint Eastwood (porque não usar um outro actor para o velho J. Edgar?), mas depois lembrei-me que Orson Welles, aos 26 anos, interpretara o magnata William Randolph Hearst em Citizen Kane (1941) com uma máscara em tudo semelhante. É preciso usar a mesma medida com os filmes de todas as épocas, e é claro que a escolha de DiCaprio decorre de uma obrigação para a existência do próprio filme. Basta reparar nas peças de promoção e notar que com muita sorte o nome de Eastwood corresponderá a um terceiro plano de leitura: primeiro vem o nome da estrela, depois o do filme, e só então, a ser realidade, surge a identificação de quem realiza.

Positive thinking

Amoroso



Pouco tempo depois de nos termos conhecido ela pôs-me esta canção nos ouvidos e tomei o gesto como se me tivesse confiado a guardar o seu coração (cansado de sofrer). Não deixei de o cuidar um dia que fosse, não abdicando de o conservar dentro de mim até quando a nossa relação deixou de estar imune às complicações que sempre ocorrem. Continuámos juntos, mesmo quando mais distantes, e juntos continuamos. Devo reconhecer que algumas vezes posso não ter cuidado daquele coração como ele pedia. Mas está sempre comigo, confundindo-se com o meu. Chego a pensar qual dos dois me é mais necessário à vida, em momentos de arrebatamento amoroso que acontecem a quem tem dois corações dentro do peito. Poderá chegar o dia, não mais eterno, em que terei de libertar o coração que ela me entregou numa dádiva. Para que isso não acontecesse estaria disposto a dizer ou escrever qualquer coisa se essa coisa pudesse dizer tudo. Se dizer tudo bastasse para que eu pudesse continuar a guardar esse coração (também cansado de sofrer).

1.27.2012

Pois que é sexta-feira

"V" de vertical

























Não teve outro remédio que crescer sozinho. Subiu em tamanho e virtude, de acordo com a (sua) natureza. Se até os cactos conseguem...

1.26.2012

A aceitação do náufrago















The Descendants/ Os Descendentes conta uma história de luto em vida com cenário paradisíaco no fundo. É deste modo que começa o monólogo interior do protagonista, Matt (George Clooney): constatando que as vidas das pessoas no Hawaii são como todas as outras, e que as famílias havaianas como as outras todas. Dá-se um acidente no mar, logo no início do filme, e o corpo da mulher de Matt permanecerá num coma irreversível até que a família decida desligar as máquinas. Aquele corpo inerte de mulher é o centro de gravidade do filme de Alexander Payne, que sempre que de lá se afasta, em digressões justificadas por situações familiares ou de negócios, perde foco e intensidade dramática. Payne não se poupa a esforços para mostrar a beleza natural das ilhas e a riqueza da música local. Tantas vezes, meras distrações do essencial.
Tal como o anterior Sideways (2004), The Descendants é também um road movie, que apenas recorre ao avião quando existe mar pelo meio. Clooney é magnífico num papel que exige mais dele nos momentos de silêncio (o filme de Payne, filme de argumento, é, curiosamente, sempre melhor quando não há conversa). A impotência emocional do protagonista, que não entende porque as mulheres da sua vida, como o próprio diz, tendem a destruir-se cada qual à sua maneira, é dada por expressões de perplexidade e gestos algo desconexos de quem não encaixa os problemas que se lhe atravessam no caminho.
Mais do que mostrar como cada elemento da família representa um desconhecido para os demais, The Descendants filma homens e mulheres (ou um homem e as mulheres da vida dele) como territórios estranhos relativamente hostis entre si, que nunca se poderão entender verdadeiramente, apenas aceitar-se como são. O plano final que mostra o pai Matt ladeado por ambas as filhas no sofá, todos em frente da televisão, é menos sinónimo de uma família que se reconfigurou após o desaparecimento da mãe, que a consequência da resignação de Matt que se terá reconciliado com as diferentes naturezas das filhas e terá sido aceite no meio delas.
Assim como o desejo do náufrago é por terra firme, o destino do homem é encontrar o seu espaço entre as mulheres. Talvez por termos nascido de uma, o lugar de pertença seja do género feminino: uma ilha, uma casa, uma família, uma mulher.

1.25.2012

Have mercy















O episódio piloto de The Walking Dead (2010), desenvolvido e realizado por Frank Darabont, mostra um tipo a acordar num hospital abandonado, que depressa dá conta que o mundo que conhecera se tornou pasto para zombies atraídos pelo ruído, pelo sangue e pelo escuro da noite. Trata-se de uma série mas podia ser um filme. Todo o filme pós-apocalíptico encerra o desejo de refundação da humanidade. Em termos formais isso traduz-se pela nostalgia do western, género que permite que a América se reencontre com as raizes de um pioneirismo identitário. Em tempos em que se apregoam os triunfos da ficção televisiva americana, que se substituiu por demérito do cinema nos hábitos de consumo do público adulto, sabe bem ver uma série que a todo o instante dá a ver como o cinema já foi, fazendo cinema de grande escala apenas lhe alterando o tamanho do quadro. Quer-me parecer que vou continuar a gostar disto.

1.24.2012

Having a laugh



Tantas vezes pedi para ser alegre, mas para isso era preciso ter nascido irlandês.

Que entrada.



«Since my baby left me...» Que entrada. Que som. Foi o gatilho que faltava. O primeiro rock and roll que eu ouvi. Uma maneira totalmente diferente de dar vida a uma canção, um som totalmente diferente, despojado, em chamas, sem tretas, sem violinos nem coros femininos nem piroseiras. Totalmente diferente. Um som nu, que ia direito às raízes que sempre tinhas pressentido mas nunca tinhas ouvido. Só por causa disso, tenho de tirar o chapéu ao Elvis. O silêncio é uma tela, uma moldura, existe para o trabalhares, não para o disfarçares. Foi esse o efeito que Heartbreak Hotel teve em mim. Nunca tinha ouvido nada tão genuíno. Tinha de descobrir outras cenas do gajo. Felizmente apanhei-lhe o nome. Voltou o sinal da Rádio Luxemburgo: «Acabámos de ouvir Elvis Presley, Heartbreak Hotel.» C'um caralho!

Keith Richards, Life.

1.23.2012

Modiano



por Vincent Delerm

500 mil quê?

















Abordei um dos principais promotores de concertos da nossa praça, preparava-se para fazer compras no supermercado, perguntando-lhe porque não tinha trazido cá os Black Keys, que até tinham estado na Europa no início do ano? A gente já se conhecia vagamente, que os meus impulsos não vão tão longe. Acrescentei que facilmente encheriam um espaço como a Aula Magna, ao que ele sorriu dizendo que os Black Keys cobram 500 mil euros (ou seriam dólares?) por concerto. Na altura desculpei-me com a minha ingenuidade mas fiquei a matutar na verba. 500 mil quê? Valor que me soou quase tão ultrajante como o ordenado que Eduardo Catroga vai auferir na EDP acumulado à reforma que tem já... Os mesmos Black Keys que na peça da Uncut de Fevereiro falam da primeira carrinha que compraram para ir para a estrada, que lhes custou 4 mil dólares que à época pareceu um investimento gigante. Confesso a minha perplexidade perante o quadro de proporções e prefiro acreditar que os Black Keys, apesar dos temas que chegaram ao cinema e à televisão, apesar de serem considerados das maiores bandas rock da actualidade, não se tornaram assim tão caros. Que foi tudo tanga ou bazófia de promotor.

Red Fang

















Os Red Fang protagonizaram o melhor concerto que vi na última semana: entre quinta e domingo assisti à actuação de quatro bandas ao vivo, uma excentricidade para os meus parâmetros, e sim, continuo comodista e desconfiado deste tipo de programas. Eram-me praticamente desconhecidos e faço-lhes justiça não despejando agora informação tirada da internet para mostrar conhecimento. As coisas são como foram. Um Coliseu ainda a preencher-se para os Mastodon, e uma mistura de rock e metal com malhas simples e directas e um som robusto sempre a pedir que os pés se movessem como se estivesse por detrás da bateria. Gostaria mais de tê-los visto de perto no Santiago Alquimista, que registou uma vazante algo inesperada na noite dos Kylesa (deram um bom concerto, levando para mais em conta o aspecto desolador da sala).
Não fiquei até ao final de Mastodon porque percebi passada uma hora que a música deles, altamente tecnicista, funciona melhor escutada em disco onde podemos seguir pormenores que em concerto se diluem numa massa sonora demasiado homogénea. Os Mastodon começavam a soar sempre iguais e fui-me embora para bem de todas as partes. Agora apetece-me o inverso. Partir para os discos dos Red Fang e comparar com a recordação de um entusiasmo genuíno porque surpreendente. Bem que os vi lá, na banca mais modesta do merchandising, a preços razoáveis que no momento soaram proibitivos. É precisa moderação mesmo tratando-se de música extrema.

Collapse into then
















Para onde quer que vás levas os problemas contigo. Se nalgum momento ouviram da boca de alguém estas palavras, podem agradecer a sensatez do comentário. De facto quando os medos e as angústias ocupam o espaço mental, não existe solução que não passe por ele. Não existe possibilidade exterior de fuga, no que Martha Marcy May Marlene dá prova cinematográfica. É o segundo filme a sair da produtora Borderline de Antonio Campos, Sean Durkin e Josh Mond, onde muitos depositam a esperança de renovação do cinema americano. Pela minha parte o entusiasmo é mais moderado. O filme de Campos, Afterschool, pareceu-me justamente um exercício escolar pretensioso, entre Kubrick e Van Sant. Bem melhor é Martha Marcy May Marlene, num registo de terror psicológico sóbrio, algures entre o cinema de Michael Haneke e o de Roman Polanski, com boa escolha de cenários e de secundários. O filme de Durkin, pontuado pelo drone da banda-sonora que acompanha cada flashback, dá conta de um processo de substituição de identidade da jovem que se junta a uma comunidade onde pontificam os homens e o seu líder Patrick (John Hawkes) em particular. As mulheres trabalham com eles no campo, comem sempre depois de os homens terminarem, e quando não se entregam ao amor livre servem de elemento reprodutor para os filhos de Patrick, que mal as vê entrar logo trata de lhes atribuir um outro nome, simbolizando o começo da perda da identidade que traziam.
Martha Marcy May Marlene conta igualmente uma história de violência que levará à fuga da protagonista, Martha: ou Marcy May, ou ainda Marlene. Quando a sua vida parece reentrar numa aparência de normalidade, os efeitos da experiência na comunidade vão-se materializando primeiro a nível mental e depois numa perturbação exteriorizada que afecta os que a rodeiam. Martha colapsa na direcção do passado recente e o filme de Sean Durkin termina de modo abrupto antes que se perceba se ela algum dia se irá curar do pesadelo. Uma última nota para a actriz principal, Elizabeth Olsen, cujos traços fazem lembrar Maggie Gyllenhaal ou sobretudo uma jovem Angelina Jolie, onde se prova que o cinema independente é uma máquina de reposição, mais até do que de produção, de tipos quando não tiques que se tornarão dominantes no cinema de vasto público. Oxalá o mesmo não aconteça com a carreira de Sean Durkin, ou então que lhe suceda o mesmo que a gente como John Dahl, Tim Hunter, Nick Gomez ou Keith Gordon, que face à dificuldade em fazer os próprios filmes se mudaram para a melhor televisão (vide post anterior).

Duplo macabro















Há dois elementos que causam forte perturbação no fim da quarta temporada de Dexter. O primeiro diz respeito ao último crime que vemos, faz lembrar o final de Se7en de David Fincher no seu grau de macabro, e liga-se ao segundo elemento pelo modo como a história de Dexter se repete, com a inversão de papéis entre a outrora criança agora pai, com um fatalismo não menos mórbido que remete para as nossas vidas que em tantos aspectos reproduzem comportamentos e consequências das vidas paternas: e quanto mais procuramos a isso fugir mais atolados ficamos no ciclo de eterna repetição. Por mim daria aqui por concluída a série, mas os produtores e os senhores da Showtime foram de outra opinião.

1.20.2012

Kindness of friends


















Os estranhos merecem-me todo o respeito, só que os amigos estão sempre lá, camuflados pelas prioridades de circunstância, prontos a dar a providencial mão. E no domingo lá estarei no Coliseu. Mighty Mastodon.

Domingos no mundo

























Entre um treinador com coração a mais e jogadores ou comentadores com défice de neurónios, lembro a resignação de Mourinho e apelo à remoção dos elementos desestabilizadores.

António um rapaz de Lisboa

Todos os dias da semana almoço com um cabeleireiro de Campo de Ourique. Tem a idade do meu pai e talvez por respeito a única pessoa que sente necessidade de manter a conversa à mesa sou eu. Nunca o vi tão entusiasmado como quando fala do Benfica ou da sua profissão. O homem tem andado com falta de apetite nas últimas semanas, a tomar vitaminas e isso, e não lhe verifico melhoras. Disse-lhe que era curioso como a sua sintomatologia era semelhante à de alguém a viver um amor não correspondido. Casado há mais de 40 anos e com o Benfica na liderança do campeonato, só ao salão de cabeleireiro se pode imputar relação com o desânimo do meu distinto companheiro. Ele achou curiosa a comparação e deixámos porção idêntica do salmão no prato.

Son-da-gem
















Nunca me senti atraído por "lolitas" quando tinha a idade delas e muito menos agora. Do filme de Kubrick guardo boa memória; do genérico em particular que acho mesmo muito bonito. O preãmbulo serve para chamar a atenção para a sondagem. Está lá o Lolita, apesar do meu voto ter ido para um filme de que gosto bem mais. Igual pesadelo para adultos (não fosse eu imune à perversa Dolores) que se actualiza permanentemente como se alguém ou nós próprios voltássemos a pressionar a tecla Play. Não tem graça nenhuma e a sua sabedoria é infinita.

1.19.2012

Girassóis

«Que importam as flores e as árvores, o fogo e a pedra, se não amo e não tenho lar? É preciso ser dois – ou, pelo menos, ai de nós, ter sido dois – para compreender um céu azul, para invocar uma aurora. As coisas infinitas, como o céu, a floresta e a luz só acham nome no coração daquele que ama. A brisa das planuras, na sua doçura e mansidão, é o eco de um suspiro enternecido. Por isso, a alma humana, enriquecida por um amor eleito, anima as grandes coisas entre as pequenas. E pode tratar por tu o universo, porque conhece a embriaguês humana do tu.»

Gaston Bachelard

A imagem:


















Dusdin Condren

Orgulho gera "carnificina"














Não tenhamos ilusões. O cinema fica sempre aquém da vida por muito que se lhe queira aproximar. Uma Separação, do iraniano Asghar Farhadi, concorre para dar conta dessa impossibilidade. O espectador parte da desvantagem da sua condição específica, apesar da objectividade aparente que o filme oferece, e nunca poderá avaliar com justeza as razões mais profundas de cada personagem. Mesmo quando quer demasiado saber, como no caso da cena em que a filha do casal recém-separado tem que decidir com qual dos pais quer ficar, o realizador não se sente na obrigação de nos dar esse direito. Toma pela última vez o partido da realidade, concluindo a sua lição de cinema. Uma coisa fica bem clara: neste Irão, o "deus da carnificina" é mais cinzento ainda. Sentimo-nos retratados, como no filme de Polanski, mas com matizes e implicações de uma outra complexidade. Vai da tal tentativa de aproximação ao real. Está aqui um dos melhores filmes do ano passado.

1.18.2012

Feio é apenas o belo que não compreendemos



Ainda! Eras o maior aqui. Ou como a canção que parece falar da cidade pode falar sobretudo da mulher.

Só o perímetro é curto



Os Kylesa actuam amanhã à noite no Santiago Alquimista inseridos num cartaz que tem antes duas outras bandas que não conheço. Será isto que aqui vêem o momento principal, com mais tempo de música, um palco menor, proximidade total entre banda e público. Não há sequer área para as habituais coreografias de luta entre débeis mentais ou para fazer passar corpos ao alto. Vamos todos ter de nos exprimir mais para dentro que fora. Muito melhor assim.

Coolesterol

























O sucesso musical faz regra geral aquilo que se diz que o casamento faz aos cônjuges. Traz adiposidades ao som de uma banda. Claro que se gostamos da banda não deixamos de gostar à razão destes pormenores. Sentimos só nostalgia dos primeiros tempos quando apenas a forma na sua essência estava lá. O processo pode baralhar-se em função da ordem pela qual percorremos qualquer discografia, mas no final é mais ou menos isto que acontece.

1.17.2012

Na sombra dos R.E.M.



E tão bom como o que de melhor os outros fizeram.

Descalços no parque (depende do frio)
























Como num Godard ao ar livre. Ela com a biografia de Steve Jobs no colo. Ele debruçado sobre a vida de Keith Richards. Ainda é possível?

Vê-se que tens o rock nas veias (e nas orelhas)

























Nota-se assim tanto?

E mais isto

No Photoshop, punk!

























Aos 81 anos, Clint Eastwood resolveu estampar "como veio ao mundo" a capa da revista "M", suplemento do jornal francês "Le Monde".
O ator e diretor americano aparece sem o recurso do Photoshop, editor de imagens que costuma corrigir defeitos como rugas e manchas.
(Folha de S. Paulo)

1.16.2012

Moby dicks

Timothy Olyphant é o herdeiro de Clint Eastwood





Quando Rango encontra o Spirit of the West, que tem a figura de Clint Eastwood nos westerns de Leone, jurei que a voz era emprestada pela lenda americana. Mas não. A voz do "espírito" pertence a Timothy Olyphant, o xerife Bullock de Deadwood, que há poucos dias eu vira protagonizar os primeiros dez minutes de outra série, Justified (promete!), onde a personagem de Olyphant remete directamente para uma mistura do "Dirty Harry" com o Coogan de Coogan's Bluff, dois filmes de Don Siegel com... Clint Eastwood. Depois disto não há como negar que Timothy Olyphant seja o novo Clint Eastwood. Está bem entregue. O mundo volta a ter sentido.

Obrigado pelas flores



























Vai uma aposta que este gajo, este gajo e este gajo são o mesmo gajo?

I Love You, Man (2009)















"Bromance" (que resulta da contração das palavras "brother" e "romance") é uma expressão que no cinema se aplica a filmes que contam uma história de amizade entre dois homens que se confunde com um romance. Regresso à explicação do termo porque vi recentemente a matriz perante a qual todos os "bromances" devem ser comparados. Um filme que termina num casamento, o de Peter Klaven (Paul Rudd) com Zooey (Rashida Jones), mas onde a declaração de amor que se escuta é entre os dois amigos: o noivo, Paul, e o padrinho e recente melhor amigo, Sydney (Jason Segel). "I love you, man", ouve-se da boca de Paul, no altar, para Sydney, e só nesse momento "menos próprio" porque foi necessário assistir ao nascimento e complicações decorrentes da amizade para desfazer as suspeitas que o título do filme produz em nós.
Há em definitivo algo de novo a passar-se com a comédia adulta norte-americana, jogos de aparências onde aquilo que parece anda sempre muito perto de se ver confirmado, onde os estereótipos masculino e feminino trocam as voltas ao espectador constantemente. Há também uma família de actores que surge com recorrência nos filmes dos realizadores/ produtores responsáveis por esta mesma renovação: gente como Judd Apatow (Knocked Up, Funny People); o realizador de I Love You Man, John Hamburg; o de Bridesmaids, Paul Feig, é só cruzar elencos para ver como a rede se estende de uns para outros. Há finalmente uma marca geracional que apela ao público que tem entre 30 e 40 anos, que se reconhecerá nas referências culturais (da cultura popular, por vezes embaraçosa) que as personagens referem. Mas o mais importante disto tudo, aquilo que é decisivo para nos ligarmos a estes filmes de modo mais profundo, é que os pequenos vícios humanos que levam a pôr em risco as relações entre os sexos (todas as variantes, com farta predominância do modelo heterosexual e da amizade) são apontados sem o sacrifício daquilo que individualiza cada personagem e lhe permite ser única e memorável. Não existem amores perfeitos, assim como também não há "bromances" perfeitos.

Flatliners















Moneyball fez acentuar a impressão tida aquando do visionamento de A Rede Social, de David Fincher, não por coincidência igualmente escrito por Aaron Sorkin. A própria história de Moneyball sugere a seguinte formulação: é como que cinema pré-formatado, à semelhança dos jogos de consola nos quais desempenhamos o papel de manager desportivo, tomamos as opções prévias a cada jogo a que assistimos depois através de um fluxo de informação em tudo oposto à emoção do espectáculo ao vivo. São assim estes dois filmes. Impecavelmente calibrados nos valores de produção. Suficientemente prudentes para que não os descartemos como mero entretenimento, mas semelhantes a um alinhamento de imagens de onde as emoções parecem ter sido filtradas. Cinema para cabeças hologramáticas, onde se fala fala fala, e a informação é processada em linha recta, numa neutralidade que não sofre perturbações de início até final. A mim dá-me sono.

1.13.2012

Elder

























Soam a isto:

Boy meets girl com recurso a bússola



Set on an island off the coast of New England in the 1960s, the film follows a young boy and girl falling in love. When they are moved to run away together, various factions of the town mobilize to search for them and the town is turned upside down – which might not be such a bad thing. (Focus Features)

Melting folk


















O sujeito sentado chama-se Jonathan Wilson. Tem 37 anos. Há 37 anos produzia-se música igualzinha à que gravou o ano passado no álbum Gentle Spirit. O disco foi por cá pouco falado tal como sucedeu com Queen of Denmark, de John Grant, outra viagem no tempo embora de uma beleza diferente de Gentle Spirit. Mas são discos que soam de outra época sem deixarem de parecer genuínos. Que a seu tempo chegam a toda a gente que lhes sabe dar valor. Wilson é mais psicadélico e contemplativo, como alguém que tenha vivido sempre de frente para a praia. Não foi o caso. Uma espécie de Dennis Wilson (é coincidência), o Beach Boy que a solo gravou o extraordinário Pacific Ocean Blue (1977), objecto de reedição cuidada há uns anos atrás, mas com um pathos mais ligeiro que se traduz na música gravada. É bom que surjam discos assim de vez em quando. Intemporais e que valem especificamente pela música que têm dentro. Fora do seu tempo e dos hypes ditados pelo mesmo. Em Gentle Spirit a música é tudo e o próprio autor se confunde com ela até se fazer passar de sujeito observador a objecto contemplado.

1.12.2012

Something Black

Um regresso



































Fotografias do sueco Knotan.

Serão as mãos a nossa última fronteira?

Debra e os homens















Na série Dexter aparecem homens de vez em quando (I mean, men!) Homens de idades diferentes, de raças diferentes. E gostam todos da mesma. Mas o que me interessa não é de quem eles gostam, mas por quem Debra se interessa. Disso é que eu gosto.

Dedicadas delicadas mãos
















As minhas mãos debatiam-se à vez com a aspereza das pegas enrodilhadas do saco carregado até ao bordo de discos e filmes. Enquanto caminhava lembrei-me que um dia, anos atrás, quando acompanhava um amigo em trabalhos de jardinagem, a dona de uma das casas, conhecida de ambos, pessoa dos livros e de esquerda, que convida para a mesa o operariado, se voltou para mim, estando eu debruçado sobre um canteiro que limpava de daninhas com as mãos apenas, e disse: "Ó senhor jardineiro, conte-me lá, você percebe mais de jardinagem ou de literatura?" Não afinei com a ironia, não havia motivos para tal, mas senti que alguma coisa em mim, apesar do empenho, o meu ar talvez, fazia diminuir a credibilidade do trabalho manual. Ao olhar de outros e à minha própria sensibilidade as mãos que tenho entranham que as suje ou agrida de outra forma. Talvez não sejam mãos dotadas para o trabalho. Mãos feitas antes para o amor.

Rampa de escuta




















O recomendadíssimo Leviathan (2004) e o elogiadíssimo El Camino (2011).

Déjà vu (4+20)



Para início de dia alguns títulos são mais perfeitos que outros.

"'cause it all will be however it's gonna"

1.11.2012

Jackass



Os Red Fang vão abrir para os Mastodon no próximo dia 22 no Coliseu. Não sei se vou lá estar mas de repente apetecia-me ainda mais.

1.10.2012

Os Black Keys rebentam com os Sonics



Rebentar no sentido de homenagem, claro.

Dusdin Condren

Toda a intimidade oscila entre ocultação intencional e revelação consentida.

















































Cenas da vida da produção de videoclips na Noruega (sem legendas)







mjød (hidromel)

Henry





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