1.02.2012

Blood Sugar Sex Dexter















Dexter Morgan, um super-herói para gente crescida. Vi as duas primeiras séries a muito bom ritmo (também dispus de tempo livre extraordinário), e comecei agora a terceira época. Como toda a gente fui agarrado pela trama policial deixada em suspenso no final de cada episódio para que o espectador deseje saber o que vai acontecer a seguir. As minhas antenas no entanto focam-se sobretudo naquilo que mais me interessa em qualquer produto de ficção. A saber: o modo como são tratadas as relações entre as várias personagens e o que penso que isso diz da nossa espécie e do modo como nos relacionamos também. Um aspecto aparentemente lateral a Dexter que usa primeiro a linguagem do sangue disposto nas várias cenas de crime, interpretado depois pelo protagonista, que quando chega a sua vez de matar tem o cuidado de apagar qualquer rasto. Investigador forense de dia, assassino em série quando o sol se põe.
As figuras principais de Dexter pertencem ao departamento de homicídios da polícia de Miami. Os investigadores compõem uma espécie de família alternativa e dão mais que ideia de não terem vidas pessoais ditas normais. É na profissão que se permitem ser aquilo que são, entrar por vezes em conflito aberto, e perseguir um reconhecimento que coroe o seu individualismo. Dexter dá a ver o atrito profissional que surge antes do êxito mesmo que aparente de cada investigação, e tudo em volta é secundário (deixado para segundo plano). Sobre isto paira a consciência de Dexter, a sua voz interior atormentada com a programação a que foi sujeito pelo pai adoptivo, também polícia em Miami. Dexter viu em criança a mãe ser brutalmente assassinada à sua frente e nesse momento terá disparado dentro dele um mecanismo de autopreservação que o impede de sentir. Tornou-se um justiceiro.
Disfarçada de vontade de autopreservação quem não gostaria de se desligar de sentir, ainda que por momentos? Viver dói, só que a dor de Dexter é a oposta da nossa. Como qualquer super-herói o seu desejo profundo é pela normalidade. Neste sentido a série norte-americana mostra como somos, como queremos ser, e como deveríamos ser. Não se pode dizer que seja pouca a ambição.

Arquivo do blogue