9.29.2006

Are you ready to be heartbroken sessions




















Na próxima quinta-feira, 5 de Outubro, noite feriada, a partir das 22h e até às 02h, a música no bar Agito (Rua da Rosa, ao Bairro Alto) é da minha responsabilidade. Só grandes canções!

9.28.2006

Música numa linguagem familiar




















O novo disco deste senhor, Antidepressant, é muito bom. Em crescendo: a última canção é um portento só ao alcance dos melhores.

9.27.2006

Bravo

Um dos meus fiéis e desinteressados amigos foi pai hoje pela terceira vez. O seu primeiro filho com a mulher que até hoje mais amou. Toda a família está infinitamente de parabéns. Todo eu sou inveja, mas uma inveja bonita.

9.26.2006

Maré cheia

Irmãos de sangue















Paulo Bento e Viggo Mortensen. Esta vai um pouco além do óbvio.

Dignidade




















Não procures chorar de cabeça para baixo. As lágrimas simplesmente não correm.

[foto: Jill Greenberg; obrigado, João]

9.25.2006

Detective cantor, am I!













EDDIE COCHRAN - THREE STEPS TO HEAVEN

Now there are three steps to heaven
Just listen and you will plainly see
And as life travels on
And things do go wrong
Just follow steps one, two and three

Step one - you find a girl to love
Step two - she falls in love with you
Step three - you kiss and hold her tightly
Yeah! that sure seems like heaven to me

The formula for heaven's very simple
Just follow the rules and you will see
And as life travels on
And things do go wrong
Just follow steps one, two and three

Step one - you find a girl to love
Step two - she falls in love with you
Step three- you kiss and hold her tightly
Yeah! that sure seems like heaven to me
Just follow steps one, two and three


Às voltas com a letra desta musiquinha "cantada" pelo fabuloso Robert Downey Jr. na versão-cinema da mítica série televisiva, que o próprio Dennis Potter adaptou às quase duas horas de filme. Jamais esquecerei Michael Gambon no Singing Detective original, mas o trabalho de Keith Gordon, realizador, é bastante competente. E arriscado. O fracasso comercial fica como triste prova disso mesmo.

9.22.2006

Princípio, meio e filme

















Necessariamente por esta ordem.

[imagem: Body Heat, Lawrence Kasdan, 1981]

9.21.2006

Empate poético

Ainda a propósito da antestreia, ontem, de Rapace e de Cântico das Criaturas, poderia aqui escrever que se tratou de uma sessão revolucionária naquilo que entenderíamos ser o potencial da nossa cinematografia. Como, no geral, tendo a duvidar das revoluções, digo apenas que se tratou do melhor programa de curtas-metragens a que alguma vez assisti. Rapace e Cântico das Criaturas, objectos que não foram criados com a intenção de se complementarem entre si, pareceram-me afinal duas faces da mesma aproximação à língua portuguesa. Enquanto que João Nicolau filma o corpo das palavras, o som que estas produzem, o concreto da rima, a musicalidade que vem agarrada às frases; Miguel Gomes filma-lhes o espírito, o poder alegórico, o efeito de abstracção que as faz quase transparentes de tão puras. Imaginem O Bobo, de José Álvaro Morais, referência que vem sempre a par dos maiores entusiasmos, e cuja influência estas duas curtas não podem recusar. No que se refere ao texto homónimo de Herculano, a metade espiritual, no sentido em que a língua se projecta num tempo infinito, coube agora semelhante tarefa a Miguel Gomes, que parte de O Cântico do Irmão Sol, de São Francisco de Assis, para em termos de estilo ir de um Jonas Mekas transalpino a um Manoel de Oliveira dos idos de Benilde numa simples transição de sequências. Já da parte que corresponde ao tempo presente em O Bobo, o Portugal do pós-25 de Abril, faz agora João Nicolau, uma vez definitivamente entrados do novo século, uma crónica letárgica e espirituosa (irreverências do reverencial César Monteiro pairam por aqui) que, qual ave de rapina, nos crava um sorriso nas maçãs do rosto que não nos larga mais. Ambos os filmes militam por um cinema-poesia que escancara o artifício com brio. São filmes que mostram fé num cinema liberto de quaisquer constrangimentos. E que nos deixam entregues quer a uma branda euforia, no caso de Rapace, quer a uma inexplicável comoção, no caso de Cântico das Criaturas. Se isto não é revolucionário, que posso dizer eu que isto seja?

9.20.2006

Sondheim escreveu

"... but alone is alone, not alive." Aqui.

Felizes os convidados

















O Cântico das Criaturas, de Miguel Gomes (Melhor Filme da Competição Nacional, Vila do Conde 2006) e Rapace, de João Nicolau (Grande Prémio Cidade de Vila do Conde para Melhor Curta-Metragem 2006) são hoje exibidos na Cinemateca pelas 21h30.

9.19.2006

O Original











É tudo muito lindo, muito lento, muito crepuscular, muito melancólico, mas ninguém bate o génio do Original. Nem ontem, nem hoje, nem nunca.

Otherwise













"..., this is a make-out album destined to be played most often by loners who, for whatever reason (a crippling breakup, a fear of human contact, the snowman melted, etc.), are only able to commit the act in their minds." (Andy Kellman, AMG, ****)

Sempre a mesma cantiga

When No One Cares
(Sammy Cahn, Jimmy Van Heusen)

When no one cares
And the phone never rings
The nights are endless things

You're like a child that cries
And no one heeds the crying
You're like a falling star that dies
And seems to go on dying

When no one cares
You just count souvenirs
And they glisten with your tears

You can't believe a love like hers
Could come from someone new
When no one cares - but you

9.18.2006

Os Junior Boys cresceram










As batidas ouvem-se ainda em primeiro plano - menos sintéticas e quebradas e mais envolventes - mas o Junior Boys espreitam a cada tema de So This is Goodbye, pela porta aberta, embora selectiva, do classicismo pop: há inclusive a versão totalmente inesperada de When No One Cares, standard celebrizado por Sinatra (à consideração do major!). Acrescente-se que continuam muito bons, com sentido melódico apurado e nocturno. As canções do novo disco revelam-se pela escuta continuada. Os Junior Boys já não querem arrebatar-nos de paixão. O objectivo agora é o de que mantenhamos uma relação fiel e duradoura com a música deles. Donde, a solução é dizer adeus aos Junior Boys para dar as boas-vindas aos junior men (ou senior boys, tanto faz). Desistindo de procurar adivinhar o que irão eles fazer a seguir.

Até os fantasmas choram














Volver é o primeiro Almodóvar não virtuoso da fase madura (uma segunda maturidade, talvez...) - aquela que se convencionou ter início com A Flor do Meu Segredo (1995). Está para a filmografia do espanhol tal como The Trouble With Harry está para a obra de Hitchcock. É rural, inofensivamente mórbido e celebra o ar patusco das figuras populares. É um filme feito com mais memórias da vida do que do cinema: apesar da Magnani, da Loren.. O resultado é da ordem da emoção epidérmica instalada no espaço da emoção sofisticada que chega pela via cerebral. Volver é, aliás, muito pouco sofisticado. Encontra-se desprovido daquela estilização visual e dramaturgica que Almodóvar tornou suprema em Tudo Sobre a Minha Mãe, Em Carne Viva ou Fala Com Ela. É assumidamente um filme menor. Almodóvar foi só ali matar saudades à terra e volta já já. E é bem possivel que tal como o falso fantasma deste seu filme, até traga uma lágrima rolando pela face.

Os nomes

Só o texto de João Lisboa sobre os novos Lloyd Cole e Camera Obscura vale, para mim, pelo Sol inteiro.

Marcar paço

Após uma primeira parte com intensidade de jogo treino, fez-se praticamente tudo o que havia para fazer. Impossível seria mudar para o equipamento alternativo (resultou com o Boavista!): o Paços de Ferreira jogava de amarelo e isso tramou-nos.

9.14.2006

No fundo



















Na voz de Cash, Love's Been Good To Me é canção que aponta para nós como luz do fundo de um túnel.

9.13.2006

1, 2, 3













O novo disco de Vincent Delerm - o melhor escritor de canções francês depois de Gainsbourg (je promets!) - sai no fim do mês.

Caneira, Veloso, Moutinho e todos os outros

Público, 12 Set. 2006:
«Nem Real Madrid, nem Barcelona, Chelsea ou Liverpool. Para José Mourinho, a melhor equipa do mundo é a do Inter de Milão, pela constelação de estrelas de que o treinador Roberto Mancini dispõe.»

Surpresa? Apenas para quem não viu o jogo.

9.11.2006

Cidade aberta














Roma fica onde tu estiveres.

Estampa finíssima













Não faço ideia se mais tarde recordarei a impressão causada pelas primeiras páginas do livro de Ruy Castro sobre o Rio, lidas minutos antes do início do concerto de Marisa Monte, Universo Particular. Nunca tal havia experimentado: começar um livro sob escassa luz e com o burburinho constante de milhares de outras almas ansiosas. Não podendo dizer mais sobre o livro, refiro que o espectáculo foi memorável: pop-samba de câmara iluminado de modo despojado e com completo bom gosto. Marisa tornou-se um Clássico, coisa que não será dificil de recordar daqui para a frente.

A nobreza que há na bola




















Aos cinquenta e poucos minutos de jogo, o Charlton empatava a um golo na casa do Chelsea. O autor da façanha foi Jimmy Floyd Hasselbaink, que de imediato se voltou para os adeptos dos blues pedindo desculpas. A resposta da multidão veio sob a forma de um enorme coro de aplausos. Hasselbaink, recorde-se, tinha sido herói em Stanford Bridge na era pré-Mourinho e mostrou nobreza de carácter que não se vê em muitos campeonatos. Exemplar e, digo mais, comovente.

9.08.2006

In Memoriam (de todos)














«Os jornais dão todos os dias notícia de gente que morre por ódio. Na Palestina ou no Iraque (como, há cinco anos, em Nova Iorque) o ódio leva pessoas a um sórdido pacto com a morte: morrem para arrastar consigo outras pessoas, o maior número possível delas. A indústria do ódio, de que alguns grupos islâmicos são hoje os maiores especialistas mundiais, tem uma não menos sórdida vertente negocial: os vendedores prometem, em troca, o preço da bem-aventurança, obviamente a pagar - conforme o ancestral método dos caloteiros, civis ou religiosos - na eternidade. Mas também há, na vida como nos livros, quem morra de desinteressado e gratuito amor. Um estudo das universidades de Harvard e da Pennsylvania, agora publicado, conclui que a morte de um cônjuge aumenta entre 17% e 21% o risco de morte do outro, sobretudo se se trata de casais ligados por longo e fundo amor. Giulietta Masina, Johnny Cash, Sid Vicious, Fernanda Barroso e Dórdio Guimarães morreram pouco depois da morte dos companheiros (Fellini, June, Nancy, Álvaro Cunhal, Natália Correia). E é sabido que também muitos animais, como os cavalos-marinhos (ou os animais domésticos que não resistem à morte dos donos), morrem de amor. O homem é o único animal capaz de morrer de ódio.»

[Morrer de Amor, crónica de Manuel António Pina, hoje, no JN. Na imagem, o casal Ernesto Sampaio e Fernanda Alves]

9.07.2006

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahh

































Nastassja Kinski e cobra, fotografadas por Richard Avedon em 1981. Chloë "sereia" Sevigny espraiando-se na areia dos sonhos de tantos. Notem a bela (quase) simetria.

Vuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuhh




















My wish is your command.

9.06.2006

Memórias com animais

Por duas vezes, em momentos afastados da vida, vi um animal urinar-se pelas patas abaixo na minha frente. O primeiro chamava-se Achado e era um dos muitos cães (e então gatos...) que a vizinha do rés-do-chão esquerdo recolhia na rua. Certo dia o Achado foi apanhado pela camioneta da câmara que em Cascais catava animais abandonados (o Achado não usava coleira...), e levaram-no para o matadouro. Prontifiquei-me a ir junto com a vizinha salvar o bicho. Quando lá cheguei, nada garantia que o Achado não estivesse já morto. O alívio foi grande ao ver o cão correr na minha direcção, para logo em seguida libertar a tensão acumulada na antecâmara municipal sob a forma de mijo. Uma amarela e parecia que interminável mijadela. O segundo animal que urinou em jacto de frente para mim, que eu saiba, não tem nome. É um dos vários gamos em cativeiro numa quinta que visitei no fim-de-semana passado. Cenário idílico, a céu aberto, que a minha presença foi perturbar. Na tentativa ingénua de lhes tocar, foi ver os gamos correrem visivelmente agitados, de um lado para o outro, tantas vezes quantas eu esboçasse o mais pequeno gesto, até que o macho mais velho (vê-se o líder pelo tamanho das hastes) ficou isolado e do pânico fez também um enorme e vaporoso repuxo de cor amarela. Face à mais que óbvia rendição do bicho, fui eu que então saí envergonhado e o mais ligeiro que pude: Tarzan da merda.

Pinot Noir














O filme será sempre um organismo vivo desde que consiga emocionar-nos.

Curb













Sai a 11 de Setembro.

9.04.2006

Weekend

9.01.2006

Ping Pong











Os próximos dias servirão também para avaliar até que ponto estes dois discos participam do mesmo código genético.

Astoria












Um disco com música de Piazzolla já não é notícia por cá e muito menos na Patagónia. Mas aquela que será das mais brilhantes e subtilmente inventivas incursões pela obra do Mestre argentino (responsabilidade dos belgas do Ensemble Astoria, com orquestrações do acordeonista Christophe Delporte), justifica destaque de entrada: até ao próximo post. Comprem-no e descubram-no. Ele está por aí, nas Fnac ou na VGM.

O homem invisível












Colateral é um filme espantoso que tem vindo a ser desvalorizado quando comparado com Miami Vive do mesmo Michael Mann. Tratei de revê-lo ontem em DVD e fiquei mais convencido ainda. Há uma simplicidade na sua história tipicamente série B - um homem tem uma noite para matar cinco testemunhas de um julgamento; outro homem limita-se a uma existência condicionada enquanto espera que o seu sonho de vida se concretize - que liga na perfeição com a atmosfera cada vez mais vazia de pessoas visíveis e mais cheia de pontos de luz que é Los Angeles fora de horas. Seguindo o modelo narrativo arquetípico da aventura de um homem normal a quem acontece algo de extraordinário (aqui sob a forma do sociopata Vincent, fabuloso Tom Cruise, que entra no táxi de Max e exige a cumplicidade deste para levar a cabo o conjunto de assassínios para que fora contratado), o filme também só sofre transformação quando o cada vez mais encurralado Max perde o medo de morrer e começa a tomar decisões. As cenas tornam-se hiperbólicas de acção e suspense e a partir desse instante é Max o obstáculo de Vincent e menos o reverso. Colateral tem momentos em que atinge o registo do Exterminador Implacável de James Cameron (na impressionante coreografia de pânico instalado que tem lugar na discoteca Fever), com a figura de Cruise a mostrar-se cada vez mais obstinada, cada vez mais niilista. E há depois a constatação cruel e premonitória do mesmo Cruise/ Vincent quando diz para Max, "um gajo mete-se no Metro em L.A. e morre. Pensas que alguém vai reparar nele?" Colateral é finalmente uma meditação existencialista sobre a desagregação dos laços humanos nas cidades modernas, que Michael Mann filma com requintes de perfeccionismo estético valendo-se, pela primeira vez no seu cinema, das virtualidades do vídeo digital de grande definição. Em termos puramente cinematográficos (da emoção pura), Colateral é fascinante: melhor découpado (no sentido de um rigor e intencionalidade hitchcockianos) do que Miami Vice e com melhores apontamentos de música e imagem. Pelo menos, na minha opinião.

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