12.28.2007

Mudam-se os tempos







Fatal como o instinto

Mestre Alfred Hitchcock referiu-se a dado momento aos seus filmes como sendo fatias de bolo. Aproprio-me da formulação do saudoso Alfred para dizer que um bife por muito bom que seja nunca deixa de ser bife. Call Girl, claro está, é um bom naco: e isto, acreditem se quiserem, não pretende ter qualquer subentendido brejeiro aplicado à silhueta da protagonista. É filme de "gajo" para onde se deve ir com o espírito daquele que pega num jornal ou numa revista (num livro?) para passar o tempo. E é cinema na medida em que assim o definem as características de produção, distribuição e exibição, mas não quer ser sétima arte coisa nenhuma. Exibe razoável competência industrial (que não temos), personagens e situações credíveis e diálogos bem armados, carregados de vernáculo e chico-esperteza lusitana. Call Girl parece-me ter por principal modelo o Instinto Fatal, de Paul Verhoeven (APV fala antes em O Anjo Azul, de Sternberg...), que deu popularidade universal a Sharon Stone: a música é a esse nível esclarecedora. Trata-se claramente de uma fantasia masculina: tira o chapéu ao Cães Danados de Tarantino e a narrativa tem alguns condimentos bem pulpy. À nossa escala contribuirá para projectar a carreira de Soraia Chaves. E justifica tornar-se num sucesso de bilheteira. Até porque há dias em que um bom bife (em sangue) é a melhor coisa que nos podem dar.

12.27.2007

Afinidades desalinhadas












Importa estacionar a atenção - antes ou depois - na obra de um tal de Frank Vincent Zappa para dar o devido crédito a um disco untuosamente óptimo como Map of Africa (está na minha lista). Da mesma forma que chocar trinta e oito anos depois com um paroxismo como Trout Mask Replica ajuda a explicar onde terá Tom Waits ido buscar aquele bicho que por vez solta no barracão das traseiras de sua casa. Vamos ouvindo e vamos ligando, até mesmo os desalinhados.

Obs. De modo algo enviesado isto é também um projecto Gostar de homens XX... (sim, porque pessoas queridas nunca estão esquecidas).

Aquele que faltava















Climas também se podia ter chamado Rostos. Fala-se pouquíssimo neste filme do turco Nuri Bilge Ceylan, um dos melhores estreados em 2007, no qual raparei a sério a um segundo visionamento. Não oferece respostas, embora esteja cheio de psicologia. O impasse também pode ser analisado: no sentido da impura especulação. Começando por o olharmos de frente, obsessivamente. Os personagens de Climas avançam e recuam uns para os outros (uns dos outros), deixando-nos com o trabalho de interpretarmos tão demorada e sintética coreografia. Mais do que filmar o fim de uma relação - a de Isa e Bahar, interpretados pelo próprio casal Nuri e Ebru Ceylan -, o que Climas apresenta é a aparente contradição que existe entre o movimento livre da natureza em constante renovação (acentuado no forte contraste entre aquele Verão à beira-mar e aquele Inverso sob intensa neve, que até poderão ser de anos diferentes) e a angústia dos humanos que não se conseguem libertar para viver as ligações com os outros de modo natural e sem condicionalismos de qualquer espécie. Não há como pôr isto por palavras claras porque estaremos todos mais ou menos atordoados com a necessidade de sermos fiéis à nossa natureza (por descobrir, sempre por descobrir até à morte) e ao mesmo tempo gerirmos o peso da herança que nos garante que a completude existe apenas no encontro com o outro: na conjugalidade. Os homens (e as mulheres) não sabem o querem, à excepção de uma coisa: não poderá ser mais a tradição, expectativas alheias, a condicionar aquilo que eventualmente desejam. Os rostos de Climas dão então conta desse périplo, dessa errância, dessa predação, dessa perdição umas vezes mansa, outras violenta. Para começo de conversa queremos tudo, desejamos tudo. Só não nos (lhes) peçam razões, palavras. Parece desolador? O começo do mundo não o devia ser menos. Era este o filme que (nos) faltava.

Liedson
















... sob aquele olhar mortiço de Ratatui brasileiro, há uma esperteza incomensurável.

[Rui Santos no Record de hoje]

A diferença



















Brian Eno surge creditado neste disco dos James - que a uma primeira audição me pareceu não desmerecer em relação aos títulos que preenchem o melhor período da banda: a primeira metade dos anos 90 - como músico (teclados, vozes) e pela sua "frequent interference and occasional co-production". Posto assim dá ares de as coisas não terem corrido bem (o diário poderá acrescentar outras pistas de leitura, mas ainda não cheguei lá...), embora já tenha dado para notar a interferência de Eno naquelas que me parecem as melhores canções do CD (musicalmente falando): Greenpeace, Play Dead, Watering Hole e Blue Pastures.

Escuta criativa



















[Another aspect of that] music - Thursday Afternoon, things like that - is trying to capitalise on something that Cage opened up, which is to say: the act of listening is in fact an act of composing. Now, his extreme version of this was silence, where there is only an act of listening; there is no act of composing on his part, there's only an act of creative listening on your part, if you're lucky.

retirado da histórica entrevista de Brian Eno à Wired, de 1995: na íntegra aqui.

12.26.2007

Big bang


















Since I have always preferred making plans to executing them, I have gravitated towards situations and systems that, once set into operation, could create music with little or no intervention on my part.

Esta magnífica frase abre as notas de edição de Discreet Music (1975), por muitos considerado o marco que abre para o género ambiental sobre o qual Brian Eno se encarregaria de dar prova teórica e prática em edições futuras. Já não se pode pretender descobrir com espanto este disco para cima de um quarto de século depois, apenas maravilharmo-nos com as suas muitas qualidades e quando muito tentar compreender o efeito que terá provocado nos ouvintes originais. A música de Brian Eno tem essa capacidade extraordinária (visionária) para abrir para um universo mais vasto do que o das suas possibilidades materiais. Tela sonora que é tão mais gratificante de experimentar quanto maiores forem as nossas referências culturais aplicadas à música e a capacidade de as articularmos no interior do contexto que, tratando-se de Eno, é sempre feito de rimas e pontos de contacto oblíquos. Já Wah Wha (1994) funciona para a discografia dos James como Kid A para a obra dos Radiohead. Situa-se entre Plaid (1993) e Whiplash (1997), álbuns de maior apelo comercial, ambos produzidos por Brian Eno que foi o grande instigador para que a banda de Tim Booth arriscasse levar mais além a experimentação sonora que decorria paralelamente ao processo de gravação das canções. A marca de Eno sobrepõe-se a tudo e é frequente darmos por apontamentos que podiam fazer parte do projecto Passengers ou até de outro disco com os U2, assinado por estes, como é o caso de Zooropa. Acontece que a sensibilidade que Brian Eno traz para as produções de que se ocupa faz por se notar na medida em que está constantemente à beira de tornar-se uma outra coisa, nunca encerrando esse capítulo do devir. As produções de Eno funcionam como manual de instruções para cada ouvinte completar os sentidos das músicas a seu bel-prazer. Digamos que ele transfere para nós parte daquilo que deverá ocorrer independentemente da sua intervenção, embora dependente como atrás foi dito das referências que possuímos. Agora que já possuo estes Discreet Music e Wah Wah, o passo seguinte passa pela aquisição de Whiplash. Já a seguir.

Contributo para a lista perfeita

























OS MELHORES DISCOS DE 2007:

1. Stars of the Lid "And their Refinement of the Decline" (ambient, drone)
2. The National "Boxer" (rock)
3. Burial "Untrue" (dubstep)
4. Richard Hawley "Lady's Bridge" (pop)
5. Jens Lekman "Night Falls Over Kortedala" (pop)
6. Steve Jansen "Slope" (electro, art rock)
7. Fennesz/Sakamoto "Cendre" (electro, ambient)
8. Colleen "Les Ondes Silencieuses" (ambient, acoustic)
9. Benjamin Biolay "Trash YéYé" (rock)
10. Vincent Delerm "À La Cigale" (pop)
11. Robert Wyatt "Comicopera" (pop, jazz)
12. June Tabor "Apples" (folk)
13. Kassin + 2 "Futurismo" (electro, bossa)
14. Harvey Bassett e Thom Bullock "Map of Africa" (rock)
15. Hannu "Worms in My Piano" (electro)
16. William Basinski "El Camino Real" (ambient)
17. Oren Ambarchi "In the Pendulum's Embrace" (ambient, electro-acoustic)
18. Arve Henriksen "Strjon" (electro, jazz)
19. The French Impressionists "Fête" (chamber pop)
20. Kevin Ayers "The Unfairground" (pop)


Como sabemos estas listas nunca se dão por concluídas. Tenho ainda dois discos para ouvir deste ano e suspeito que quando o tiver feito outros dois ter-se-ão chegado à pilha de espera. Assim fica como está - e parece-me estar muito bem assim. Algumas notas: a fulgurante chegada ao topo dos Stars of the Lid, desconhecidos para mim há semanas atrás. Depois aconteceu o concerto no Nimas, a compra deste e de outro CD bastante mais antigo e o resto foi da ordem do maravilhamento. Para quem gosta de neo-clássicos como Arvo Pärt, de minimalistas espectrais como Morton Feldman (principalmente do menos reconhecido trabalho orquestral), de música ambiental da escola Brian Eno até ao presente, de adoradores do drone como Biosphere ou Deaf Center, a música dos Stars of the Lid - que se estende neste duplo-CD até às duas horas de duração - representa o apuro máximo de todas essas referências. Os National também fizeram um grande disco - cru, sofisticado e directo - que começa por nos agarrar pelo corpo com ritmos tensos, para nos conquistar finalmente pelas palavras que se soltam da obscuridade etílica e tabágica da voz de Matt Berninger. Burial é a "revelação misteriosa" do ano, sobretudo porque só depois do espanto-Untrue parti para o disco que suscitou o mito. E o mito, por uma vez, é inteiramente justificado. Richard Hawley, o igualmente lendário crooner de Sheffield, gravou o seu disco menos crepuscular, o que pode gerar algum desapontamento nos fãs aguerridos. Melhor escutado, Lady's Bridge vem a revelar-se tão sedutor quanto o cancioneiro que o antecedeu. E depois ninguém tem hoje em dia a coragem, o talento e a genuinidade para concorrer no mercado da música com uma proposta que não esconde a postura absolutamente fora de tempo. Hawley não é só jurassic-labour. É mais que isso jurassic-pop. O sueco Jens Lekman, ainda para mais num ano em que os Magnetic Fields primaram pela ausência, ocupa merecidamente um dos lugares cimeiros nas minhas preferências. Os seus outros discos são mais ou menos tão bons quanto este. Talvez aqui a arquitectura sonora seja de outro calibre, o revestimento das canções menos artesanal, sem que no entanto se perca aquele lado irresistivelmente à beira do kitsch. Muito bom também. O CD de Steve Jansen comecei por ouvir a caminho do concerto de David Sylvian em Braga. No carro, em fundo, e a qualidade deste logo sobressaiu. Foi gravado com vagar e nota-se que tudo o que nele consta foi lá colocado com elevados critério e bom gosto. Os convidados dão outra prova de que Steve Jansen só teve a ganhar com a ponderação sensível em todo o alinhamento de Slope. É obra que surge discreta, distante das pistas ondem correm os notáveis mas que, qual maratonista, produzirá ecos que perdurarão por muitos e bons anos. Slope é valor seguríssimo. Fennesz com Sakamoto, por um lado, e a francesa Colleen, por outro, aquietaram mais ainda a sua produção, trocando o efeito surpresa pela valorização da pureza expressiva da música sustentada em grande parte por elementos acústicos. A intervenção do piano de Ryuichi Sakamoto é pelo menos tão distinta em Cendre como nas suas colaborações com Alva Noto. E a malha sonora que o envolve ligeiramente de outra natureza (trocou-se a concentricidade dos apontamentos electrónicos pela textura sonora de "vespeiro", em desacelerado). Cécile Schott (conhecida no meio artístico por Colleen) enveredou pelo caminho da austeridade em Les Ondes Silencieuses. Procurou causar impressões semelhantes às suscitadas pelo seu anterior trabalho - um enlevo secreto que ficará próximo dos jardins artificiais de Virginia Astley -, recorrendo agora apenas a instrumentos acústicos: viola da gamba, guitarra, clarinete, espineta (espécie de cravo). Música tranquila. CD belíssimo. Encerrando com os franceses - pois não pretendo alongar-me às restantes dez (mais seis) escolhas - refiro a terminar o melhor Benjamin Biolay de sempre: maduro, um sarcasmo pedido de empréstimo a Serge Gainsbourg que Benjamin usa mimetizando até na voz (é por demais tentador, eu sei...); enormes recursos revelados no tipo de arranjos escolhidos para as diferentes canções; brilhantismo sólido que nasce da desilusão no amor ou, tanto faz, do abdicar de quaisquer ilusões para com o ingrato sujeito. O tema é negro o bastante, mas a música por contraponto luminosa. O disco de Vincent Delerm - na verdade dois CD's mais dois DVD's idênticos, salvaguardando a parte dos extras e a maior capacidade dos suportes de imagem- serve para celebrar uma brilhante discografia de três títulos, menos grave que a de Biolay, de um romantismo que joga nos dois tabuleiros: o biográfico e o ficcional. O gesto autoral de Vincent foi sempre mais ligeiro. Contempla linhas de fuga como o humor, a auto-irrisão e o name dropping. O concerto na Cigalle mostra de igual modo um Vincent excelente comunicador à frente de uma super formação de câmara (todos os elementos tão versáteis e bem dispostos quanto ele), e a noite evolui do amplamente representado álbum do ano passado, Les Piqûres d'Araignée, para incursões por canções que apetece ouvir sempre. Tudo com doses de sobra de criatividade e uma brilhante revisitação do património muito pessoal da canção francesa por conta de um segundo CD (e de um segundo DVD de duetos: com B. Biolay, Neil Hannon, George Moustaki, Irène Jacob, Katerine..) tão notável quanto o(s) primeiro(s).

e ainda...

DUAS ESCOLHAS DE CLÁSSICA:
1. Stephen Sondheim "Company" feat. Raúl Esparza (musical, broadway)
2. Fauré "L'Oeuvre pour violoncelle et piano" Xavier Gagnepain, violoncelo, Jean-Michel Dayez, piano (instrumental, câmara)

DUAS ESCOLHAS DE JAZZ:
1. Enrico Rava Quintet "The Words and the Days" (instrumental)
2. Kurt Elling "Nightmoves" (vocal)

DUAS ESCOLHAS DE MÚSICA PORTUGUESA:
1. JP Simões "1970" (vocal)
2. Pedro Jóia "À Espera de Armandinho" (instrumental)


Mais listas só em 2008. Ninguém precisa saber que livros não andei a ler, penso eu. Todos os que não apareceram citados ao longo do ano.


E agora, por gentileza, quero ver escolhas de música daqui, daqui, daqui (só faltam os outros 40...), daqui e, muito em particular, daqui. Agradecido.

12.21.2007

Listas listas listas









O Boomkat propõe a grande lista próxima da perfeição e apresenta escolhas de vários colaboradores e de outras pessoas de quem se sente próximo. Prestem particular atenção à selecção de Sylvain Chauveau.

Patinagem artística





















Imaginem o Estádio da Luz lotado para assistir a um Benfica-Porto com todos os adeptos a torcerem por ambas as equipas. A rivalidade castelhana-catalã que existe no campo do desporto (Barça-Real), da política, da história e da cultura some-se quando se trata da reunião em palco dos dois maiores vultos da canção de autor espanhola: o madrileno Joaquín Sabina e o catalão Joan Manuel Serrat. Os CD's+DVD acabados de sair (mas não por cá) dão conta das actuações em Madrid - numa espécie de Pavilhão Atlântico da capital vizinha - que revisitam 40 anos de um cancioneiro cosmopolita que criou raízes tanto do lado das elites como nas grandes massas. O génio incontestado que a sala repleta celebra entoando o refrão de cada uma das 18 canções (41 na Edição Especial que não é ainda a que possuo) à excepção de Fa Vint Anys Que Tinc Vint Anys, a única que Serrat defende na língua paterna. Para tentarmos estabelecer um paralelismo com o que aqui se festeja aplicando-o à nossa realidade (salvaguardando diferentes riquezas entre cancioneiros distintos e a projecção dos mesmos dentro e fora de portas), teríamos de pensar num espectáculo conjunto de Jorge Palma (pelo lado Sabina) e Sérgio Godinho (pelo lado Serrat), mas talvez fosse mais justa a comparação (em termos de escala) pensando no que seria a reunião inédita de Mick Jagger e Paul McCartney com banda constituída por elementos históricos de um e de outro lado: aquilo que estes concertos de Madrid da tournée Dos Pájaros de un Tiro fazem representar por Ricard Miralles e Pancho Varona, principalmente. Existe, em termos puramente musicais, melhor Serrat (aquele sobre o qual estou mais habilitado a me pronunciar, uma vez que tenho todos os seus discos) e melhor Sabina no trabalho de ambos, em separado. Mas o que aqui está em jogo é a festa, a celebração de músicas que deram origem à história de amor que dura ainda entre o povo espanhol e a canção de autor, mas acima de tudo as segundas vidas de Joaquín Sabina e de Joan Manuel Serrat que em anos recentes estiveram, cada qual com o seu problema de saúde, próximos da morte. Estiveram quase a patinar, mas a patinagem é de novo, agora, artística. Estes "pássaros" gozam de boa saúde e, tal como a sua música, recomendam-se e muito. E o prazer que é ver que tão pouco se levam a sério... (como só os maiores o fazem).

12.20.2007

Cabo Verde sem morna

Maxman
























Este sábado. Às 23h.

Psicadelismo aristocrático






















Nick Currie, aliás Momus, segurando o vinil de Taking Tiger Mountain (By Strategy), o mais recente nada recente disco de Brian Eno a ter-me virado totalmente do avesso. Ou como a grande música tem capacidade de gerar uma muito privada euforia - the kick inside... - cercada pelo mais cinzento dos dias: pouring and freezing like a motherfu****. "Psicadelismo aristocrático" é isto (bless it).

O bosque e depois

















Foto: Miguel A. Lopes

Existe afinal uma história de amor com final feliz na versão da peça de David Mamet O Bosque, The Woods em cena no Teatro Aberto a partir de amanhã, resultado do muito particular trabalho de encenação de João Lopes que envolve a cumplicidade de todos os intervenientes: da tradução a cargo de Berta Neves, aos actores Sofia Aparício e Ricardo Trêpa, incluindo obviamente o trabalho cenográfico de João Mendes Ribeiro. Diria mesmo que só um “trabalho de amor” pode explicar os resultados observáveis no decorrer desses 90 minutos que dão prova de um desencontro (o de Nick e Ruth) que se reflectirá na história pessoal de cada espectador. Diria mais: que na história dos espectadores homens isso poderá ser sentido com maior acutilância. Mamet é um autor que abreviadamente, para simplificar, se pode apelidar de cerebral e esta versão não perverte a natureza da sua escrita. Mas de resto, tudo o que na actual proposta vai além da materialidade do próprio texto, embora não o traindo (reforce-se), empresta-lhe um enquadramento orgânico, caloroso, emocional que contribui para que sintamos mais fundo a tragédia do casal protagonista: um homem e uma mulher com desejos e maturidades desencontradas. O texto é muito bom. Os actores expõem com grande generosidade a verdade que encontraram naquelas personagens (ele estático e resignado; ela inconformada até ao desespero) e a encenação do João Lopes é das coisas mais bonitas que lhe vi fazer e justifica todo o seu orgulho. O ciclo completar-se-á no público que espero acorra em número igualmente generoso à acolhedora sala experimental (dita, sala vermelha) do Teatro Aberto. Poucas coisas há que sejam tão gratificantes quanto elogiar o trabalho de um amigo. Aquilo que alguns de vocês poderão não sentir necessidade de reconhecer. Obrigado, João.

12.19.2007

Isto se quiserem ser "nossos amigos"























Este foi o melhor disco que escutei este ano. Não fará parte da lista a apresentar dentro de dias (embora seja mais que um indício daquele que ocupará o topo da mesma) por não se tratar de uma edição de 2007: é de 1998, hélas. De qualquer modo ficam avisados: se quiserem continuar a ser meus amigos e do Samir Khan também.


Per aspera ad astra traduz-se por qualquer coisa como o caminho para os astros é feito de aspereza.



12.18.2007

A um metro da Flur






Inaugura amanhã. Bendita seja.

Boas notícias











Pode até não haver insusbstituíveis, mas há pessoas difíceis de substituir.

12.17.2007

Antidepressivo



















Urdhva Dhanurasana: não exige receita médica mas é prudente proceder ao aquecimento dos músculos e articulações primeiro. Uma vez ultrapassada a resistência inicial, é por excelência a postura que nos dá a sensação de que a carcaça se abre para de lá sair o corpo sobrehumano.

Carinhas lavadas




















O Diário de Notícias traz hoje em páginas consecutivas fotografias com Cristina Branco, a pretexto dos espectáculos do novo disco, e Soraia Chaves, protagonista do filme de António-Pedro Vasconcelos que estreia na próxima semana. As imagens que encontrei para usar aqui não são ideais, mas também não existem imagens perfeitas para traduzir a beleza natural destas duas mulheres. Na minha opinião duas belas mulheres públicas do nosso país, como há poucas. De uma sensualidade dócil embora sobejamente curvilínea, na acepção mais lusitana das expressões. Feliz daquele que as observa quando se deitam ou se levantam, pois deles é esse reino oculto onde os atributos de Soraia e Cristina dispensarão cuidados que frequentemente as colocam a um passo do piroso. Mulheres como estas devem ser contempladas tal como vieram ao mundo. Da cabeça aos pés lavadas.

Impacto de Varsóvia
























Foi caso de o Ano Bowie atingir o meu ano (Brian) Eno com a intensidade de um cometa.

... e aqui o questionário a que é mesmo irresistível dar resposta.

12.15.2007

Na Cigale c'est génial
























É provável que seja dos títulos mais generosos do ano que em breve termina. Vincent Delerm à la Cigale. Pedi-o na Flur e veio a custar 27.50 euros. Pechincha. Dois CD's e dois DVD's. Os mesmos concertos. As mesmas músicas. Os DVD's tendo mais algumas faixas decorrente da sua maior capacidade de armazenamento. E 45 minutos de extras por ver. O primeiro CD e DVD ocupando-se das interpretações de Vincent com banda - e que excelente banda, em particular o trompetista (na verdade multi-instrumentista) Ibrahim Maalouf. O segundo par, também editado em separado desta edição especial, tratando dos muitos duetos que reúnem gente que faz parte da aprendizagem musical e/ou afectiva de Vincent - a mais longínqua e a mais recente -, da qual tenho forçosamente que destacar Irène Jacob, Benjamin Biolay e George Moustaki pelo encanto particular das suas aparições. Concerto filmado de modo eficaz onde importa que seja a encenação adoravelmente clochard a brilhar. Desde a abertura, com as imagens de um improvável Vincent otário às voltas com o passar do tempo com as demoiselles logo ali ao largo projectadas tal como ele em fundo. Depois a música arranca e a celebração segue sempre lá em cima. Com músicos desta categoria até parecem naturais tantas transições de posição, diferentes formatos, soluções desconcertantes, interpelação do público por um Vincent Delerm que tem sempre uma história absurda, uma anedota, um pretexto para tirar partido da auto-irrisão. E há ainda a participação de Neil Hannon na metade dos duetos, recém aterrado em terras parisienses e à nora com a língua em que lhe pedem para cantar. A coisa lá se consegue com algum desenrascanço e a flexibilidade do anfitrião todo musical. Noutro disco, momento igualmente surpreendente passa pela "aparição" de Peter von Poehl que entra em palco, liga um gravador de pistas de onde supostamente a sua voz será debitada ao longo da apresentação de tema Marine, que também consta de Les Piqûres D'Araignée o álbum de Delerm naturalmente mais representado. No CD/ DVD de Favourite Songs, a referida canção já será objecto de interpretação "convencional". Vincent Delerm à la Cigale é ao mesmo tempo a história actual e passada da canção francesa em irresistível movimento. Toda a sensibilidade e inteligência (ouçam esse belo macguffin que é Le Baiser Modiano ou a suposta miragem do escritor francês a servir de pretexto à recordação de um romance) de um intérprete de excepção. O muito generoso Vincent Delerm. Bravo. Bravo. Bravo!

12.13.2007

Três secos




















1) Uma coisa é o Tévez, outra o "teve-os". Paulo Bento "teve-os" ontem ainda mais. Liedson limitou-se a seguir-lhe o exemplo.

2) Diz-nos o antigo Artur Agostinho no Record de hoje: «Mestre Cândido [de Oliveira] fez questão de me lembrar que o facto de estar de relações cortadas com Tavares da Silva em nada deveria influenciar o meu trabalho. E acrescentou que adoptara, na vida, uma regra de ouro que um pugilista lhe ensinara, um dia: "não se bate num adversário quando ele está por terra". (...) Tudo isto me veio à memória ao ler as declarações de Carlos Martins (...)». Palavras dos Mestres.

3) Empadão ralo é como penálti desperdiçado. Razão pela qual não retirei a confiança à minha cozinheira de todos os almoços (todas as semanas) e ela, tal como Polga, desta vez fez golo.

12.10.2007

Coast to coast















O realizador português Pedro Costa foi hoje distinguido pela Los Angeles Film Critics Association na categoria de cinema independente/experimental, com o filme Colossal Youth, Juventude em Marcha.

Quem és tu?


CINEMA: os melhores e os piores vistos em sala em 2007















10 filmes de grata memória:

1. Still Life, Natureza Morta (Jia Zhang-ke);
2. Letters From Iwo Jima, Cartas de Iwo Jima (Clint Eastwood);
3. Lady Chatterley (Pascale Ferran);
4. Laitakaupungin Valot, Luzes no Crepúsculo (Aki Kaurismäki);
5. Half Nelson, Encurralados (Ryan Fleck & Anna Boden);
6. Little Children, Pecados Íntimos (Todd Field);
7. Breaking and Entering, Assalto e Intromissão (Anthony Minghella);
8. The Good German, O Bom Alemão (Steven Soderbergh);
9. Les Chansons D'Amour, As Canções de Amor (Christophe Honoré);
10. Honor de Cavalleria, Honra de Cavalaria (Albert Serra)

10 filmes de memória ingrata:

-1. Blood Diamond, Diamante de Sangue (Edward Zwick);
-2. The Last King of Scotland, O Último Rei da Escócia (Kevin McDonald);
-3. Corrupção (realizador não creditado);
-4. Les Anges Exterminateurs, Os Anjos Exterminadores (Jean-Claude Brisseau);
-5. The Bourne Ultimatum, Ultimato (Paul Greengrass);
-6. Body Rice (Hugo Vieira da Silva);
-7. .45 (Gary Lennon);
-8. Fur, Um Retrato Imaginário de Diane Arbus (Steven Shainberg);
-9. The Fountain (Darren Aronovsky);
-10. INLAND EMPIRE (David Lynch)


As listas apenas dão prova de um gosto particular. A argumentação foi sendo difundida aqui e noutros sítios ao longo deste ano. Considerem dois pratos da balança: de um lado o entusiasmo, do outro a decepção (frequentemente o aborrecimento). E é só.

12.07.2007

There ought to be clowns

Stars of the Lid

















De acordo com o site da Pitchfork, os texanos Stars of the Lid já não editavam há seis anos, pondo fim a esse interregno com o duplo-CD, And Their Refinement of the Decline, que esteve na base do concerto no cinema Nimas. Percebo agora, dado o meu crescente interesse e envolvimento com a música ambiental, ou drone music, em anos recentes, que esse hiato possa justificar o meu desconhecimento, até ontem, da existência dos Stars of the Lid. Foi um encontro memorável. Os dois elementos - Adam Bryanbaum Wiltzie e Brian Edward Mcbride - em cada extremidade do "palco", no centro um trio de cordas constituído por três mulheres e a tela em fundo onde se projectavam sequências de imagens em movimento, umas mais abstractas outras mais figurativas, perfeitamente integradas com a música escutada. A actuação foi constituída por meia dúzia de peças longas que me fizeram recordar outras composições de gente como Max Richter ou Arvo Pärt (o concerto encerrou com uma releitura de Fratres), na fronteira estabelecida pelos géneros ambiental e neo-clássico: reforçada pela presença da electrónica e dos instrumentos de cordas. Música que expande o nosso campo de percepção e que proporciona enorme liberdade de divagação pelas suas várias superfícies de beleza. Sou um drone freak, reconheço. Foi também por isso uma noite mais perfeita ainda.

12.06.2007

Recordar é beber



















Ce soir, je bois!
Heureusement, je ne suis jamais ivre.
Dors... Cette nuit, je vais écrire mon livre.
Il est temps, depuis l'temps.
C'est mon roman, c'est mon histoire!
Il y a des choses qu'on n'écrit
Que lorsqu'il est très tard,
Que lorsqu'il fait bien nuit...
Dors, je t'aime.
Dors dans ma vie...
Je bois...

[La Chanson de Paul]





















Fui à rua onde vivias
Vi a tua luz acesa
Apeteceu-me beber
Fui ao bar onde tu ias
E sentado à mesma mesa
Lembrei-me de ti sem querer

Perguntei sem reparar
Com quem vivias agora
Se alguém sabia de ti
Mas antes de alguém falar
Levantei-me, fui-me embora
Entrei num bar e bebi

Partilhar a cama é uma simpática e sensata tradição de família















Descobri Em Paris o meu filme de Natal deste ano. Costumava procurá-los, pela quadra, nas salas de cinema. Este veio ter comigo a casa, local perfeito porque em absoluta sintonia com o espírito do filme. Que começa com três homens deprimidos fechados num apartamento: os três deprimidos, sim, ridículos, também, uma vez que o comportamento eufórico do filho mais novo (Jonathan/ Louis Garrel) outra coisa não faz do que mascarar a dor que se abateu sobre os três com a saída da mãe lá de casa (que reaparece brevemente trazida pela actriz de Truffaut, Marie-France Pisier), anos antes, por aquela altura, e com o suicídio da única irmã. As mulheres estão de facto à parte do universo de Em Paris. Os homens por isso sozinhos, abandonados, podem viver de qualquer maneira. A casa vira um quartel de índios (não se sabe muito bem quem é pai de quem, quem é o filho de quem ou o irmão de quem), uma fraternidade portanto razoavelmente anárquica. Que Christophe Honoré filma com um sentido de empatia que comove: a câmara faz corpo com aquele "bordel". E ocorre de certo modo também a recuperação (possível) da infância. O selar do luto com o qual o filme encerra o seu flashback (a acção começa no dia seguinte). O irmão mais novo - de regresso a casa após a "promenade" que lhe valeu partilhar a cama com três raparigas, sucessivamente - pede ao mais velho (Paul/ Romain Duris) que lhe leia a história do coelho Tom e do lobo Loulou, terna parábola sobre a perda do medo e sobre a identificação com a dor do outro. Em Paris é filme que recorre a uma série de malabarismos formais e palhaçadas teatrais para disfarçar toda a ternura que tem dentro. Percebe-se a intenção ("c'est cool" como nos clássicos da Nova Vaga) e o cinismo do espectador irá igualmente cedendo de modo quase imperceptível, como convém. Segunda e ultima citação: "a tristeza toca-nos a todos, como a cor dos olhos." Este só podia ser o meu filme de Natal neste ano. Na verdade, uma redescoberta (outra; acontece-me com relativa frequência...). Está aqui para ser partilhado (como de resto tudo o que aqui está).

Sequenciadores humanos






















Clustermusik starts from a point of zero, unfolds, haiku-like, from tiny details that are hypnotically repeated, a baroque trance dance for the machine age (...)

Eno: "Cluster always started out like people would jam today against a sequencer, though we weren't using sequencers then; somebody would become a sort of human sequencer (...)"

Para mim a noção de música e os conceitos de perfeição (humana; maquinal), beleza, harmonia, tendem a confundir-se. A música dos Cluster é um fenómeno com trinta anos que conheço há três dias. É fenomenal (eu queria ter estado lá).

12.05.2007

Pode-se lá confiar na gentileza dos gráficos

















«Existe uma imagem bela e muito justa usada na promoção deste disco de Robert Wyatt, Comicopera. Passo a descrevê-la, para mais não sabendo se o nosso gráfico fará a gentileza de a reproduzir. O músico inglês encontra-se sentado na cadeira de rodas que há três décadas é extensão do seu próprio corpo, e toca fliscorne para um único ouvinte: o cavalo branco que tem os olhos semicerrados, como se os sons de Wyatt o contagiassem. Música tão envolvente que mesmo os animais se deixam afundar nesse banho morno. (...)»


Continua na revista Atlântico de Natal, actualmente nas bancas.

Máquina de ossos

Ao contemplar esta imagem lembrei-me desta deliciosa canção. A dedicatória segue implícita.


THOMAS FERSEN
"Mon Macabre"

Depuis que je me suis cogné la tête
Depuis que je suis tombé de l'arbre
J'entends le pas de mon squelette
J'entends son cliquetis de sabre

"Squelette mon ami, veux-tu du salami ?
Squelette mon garçon, prends-tu du saucisson?
Je comprends ton mal-être dans l'armure de l'ancêtre
Tes soirées sont mortelles dans l'armoire à dentelles"

Alors il se débine
Par la fenêtre à guillotine
La lune, astre obscène
Eclaire la scène

Je le retrouve dans mon lit
En proie à la mélancolie
Je le surprends dans mon fauteuil
En train d'fumer des clous de cercueil

"Squelette mon petit, veux-tu des spaghetti?
Squelette mon cousin, veux-tu du jus de raisin?
L'ordinaire est ingrat dans le vieux débarras
L'ordinaire est chagrin dans l'armoire en sapin"

Alors il se débine
Par la fenêtre à guillotine
La lune, astre obscène
Eclaire la scène

Mon squelette est un tendre
Caché sous la cuirasse
Il ne veut plus attendre
Il veut qu'on l'embrasse

"Squelette mon chéri, tu es logé, tu es nourri
Squelette tu es blanchi, oui mais le lit n'est pas garni
Trouve-toi une amoureuse mais pas trop chatouilleuse
Pour jouer aux osselets dans le placard à balais"

Alors il se débine
Par la fenêtre à guillotine
La lune, astre obscène
Eclaire la scène

Et sur l'épave d'une mobylette
La voilà parti dans la nuit
Il roule comme un poulet sans tête
Et tout finit dans un grand bruit

"Squelette mon macabre, t'es rentré dans un arbre
Tu conduis comme un manche, moi j'suis tombé de ma branche"
Mes soirées sont chagrines dans la maison en ruines
Le puis me désespère dans son manteau de lierre

Alors je me débine
Par la fenêtre à guillotine
La lune, astre obscène
Eclaire la scène

Alors je me débine
Par la fenêtre à guillotine
La lune, astre obscène
Eclaire la scène.


E agora que Fersen - just like Merritt - descobriu os prazeres de fazer-se acompanhar apenas de um youkelele, mekelele..., o encanto destas coisas apresenta-se reduzido até ao osso. Não o procurem por aí: este só de encomenda!

12.03.2007

Promessas não cumprida(s)















Eastern Promises foi escrito por Steven Knight, argumentista do Dirty Pretty Things dirigido em 2004 por Stephen Frears, com resultados bem mais interessantes do que este novo Cronenberg. A história, diga-se em abono da verdade, também era de qualidade superior (nota-se nos diálogos, em particular, que em Eastern Promises estão cheios de frases inúteis). O cinema de Frears nada tem a ver com o de Cronenberg, pelo que é injusto confrontar os resultados de um e de outro. Podemos comparar sim Eastern Promises à restante filmografia do canadiano e verificar que existem claras marcas de autoria - a tensão homoerótica entre Kirill e Nikolai (mais brutal do que em M. Butterfly), a erotização do corpo de Viggo Mortensen (tatuado como os personagens de Crash) e os habituais apontamentos gore nas cenas de violência - mas que os resultados gerais mostram aquilo que podíamos resumir a um projecto "de encomenda", aquém da visceralidade e da radicalidade psicológica da anterior obra cronenbergiana. São pontos fracos do filme aquilo que diz respeito à personagem asséptica da enfermeira protagonizada por Naomi Watts e à familia desta; o investimento melodramático no bebé e o seu aproveitamento final; o plano da prostituta ucraniana após ter sido violentada por Nikolai a mando de Kirill, cantando baixinho em posição fetal num intento de esteticização que naquele contexto me parece despropositado; a previsibilidade no modo como irrompe a violência; alguma superficialidade na caracterização das principais figuras; por último o recurso à voz off da rapariga morta no início que se sobrepõe à leitura do seu diário efectuada pelas várias personagens. Mas existem coisas boas como a demorada luta na sauna marcada pelo instinto de sobrevivência de um corpo nu, cada vez mais ensanguentado, cada vez mais animal; e basicamente o que diz respeito à composição de Mortensen a que só modificaria o visual por vezes um pouco "matrix" de mais. Para parâmetros industriais é um filme razoavelmente interessante. Para parâmetros estabelecidos pela obra de um dos mais importantes cineastas das últimas décadas é um objecto menor. Não trazendo à colação aqueles que porventura se recordem do Funeral de Ferrara ou do Little Odessa de James Gray - que implicaria comparar um Cronenberg algo descaracterizado com exemplos de superior pujança. Quanto à questão colocada por mim num post anterior (corpo do mal ou corpo do bem?), a resposta diria mais sobre a intriga de Eastern Promises do que o que penso poder revelar a quem ainda não o viu. Fica para a próxima.

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