12.20.2007

O bosque e depois

















Foto: Miguel A. Lopes

Existe afinal uma história de amor com final feliz na versão da peça de David Mamet O Bosque, The Woods em cena no Teatro Aberto a partir de amanhã, resultado do muito particular trabalho de encenação de João Lopes que envolve a cumplicidade de todos os intervenientes: da tradução a cargo de Berta Neves, aos actores Sofia Aparício e Ricardo Trêpa, incluindo obviamente o trabalho cenográfico de João Mendes Ribeiro. Diria mesmo que só um “trabalho de amor” pode explicar os resultados observáveis no decorrer desses 90 minutos que dão prova de um desencontro (o de Nick e Ruth) que se reflectirá na história pessoal de cada espectador. Diria mais: que na história dos espectadores homens isso poderá ser sentido com maior acutilância. Mamet é um autor que abreviadamente, para simplificar, se pode apelidar de cerebral e esta versão não perverte a natureza da sua escrita. Mas de resto, tudo o que na actual proposta vai além da materialidade do próprio texto, embora não o traindo (reforce-se), empresta-lhe um enquadramento orgânico, caloroso, emocional que contribui para que sintamos mais fundo a tragédia do casal protagonista: um homem e uma mulher com desejos e maturidades desencontradas. O texto é muito bom. Os actores expõem com grande generosidade a verdade que encontraram naquelas personagens (ele estático e resignado; ela inconformada até ao desespero) e a encenação do João Lopes é das coisas mais bonitas que lhe vi fazer e justifica todo o seu orgulho. O ciclo completar-se-á no público que espero acorra em número igualmente generoso à acolhedora sala experimental (dita, sala vermelha) do Teatro Aberto. Poucas coisas há que sejam tão gratificantes quanto elogiar o trabalho de um amigo. Aquilo que alguns de vocês poderão não sentir necessidade de reconhecer. Obrigado, João.

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