12.26.2007

Contributo para a lista perfeita

























OS MELHORES DISCOS DE 2007:

1. Stars of the Lid "And their Refinement of the Decline" (ambient, drone)
2. The National "Boxer" (rock)
3. Burial "Untrue" (dubstep)
4. Richard Hawley "Lady's Bridge" (pop)
5. Jens Lekman "Night Falls Over Kortedala" (pop)
6. Steve Jansen "Slope" (electro, art rock)
7. Fennesz/Sakamoto "Cendre" (electro, ambient)
8. Colleen "Les Ondes Silencieuses" (ambient, acoustic)
9. Benjamin Biolay "Trash YéYé" (rock)
10. Vincent Delerm "À La Cigale" (pop)
11. Robert Wyatt "Comicopera" (pop, jazz)
12. June Tabor "Apples" (folk)
13. Kassin + 2 "Futurismo" (electro, bossa)
14. Harvey Bassett e Thom Bullock "Map of Africa" (rock)
15. Hannu "Worms in My Piano" (electro)
16. William Basinski "El Camino Real" (ambient)
17. Oren Ambarchi "In the Pendulum's Embrace" (ambient, electro-acoustic)
18. Arve Henriksen "Strjon" (electro, jazz)
19. The French Impressionists "Fête" (chamber pop)
20. Kevin Ayers "The Unfairground" (pop)


Como sabemos estas listas nunca se dão por concluídas. Tenho ainda dois discos para ouvir deste ano e suspeito que quando o tiver feito outros dois ter-se-ão chegado à pilha de espera. Assim fica como está - e parece-me estar muito bem assim. Algumas notas: a fulgurante chegada ao topo dos Stars of the Lid, desconhecidos para mim há semanas atrás. Depois aconteceu o concerto no Nimas, a compra deste e de outro CD bastante mais antigo e o resto foi da ordem do maravilhamento. Para quem gosta de neo-clássicos como Arvo Pärt, de minimalistas espectrais como Morton Feldman (principalmente do menos reconhecido trabalho orquestral), de música ambiental da escola Brian Eno até ao presente, de adoradores do drone como Biosphere ou Deaf Center, a música dos Stars of the Lid - que se estende neste duplo-CD até às duas horas de duração - representa o apuro máximo de todas essas referências. Os National também fizeram um grande disco - cru, sofisticado e directo - que começa por nos agarrar pelo corpo com ritmos tensos, para nos conquistar finalmente pelas palavras que se soltam da obscuridade etílica e tabágica da voz de Matt Berninger. Burial é a "revelação misteriosa" do ano, sobretudo porque só depois do espanto-Untrue parti para o disco que suscitou o mito. E o mito, por uma vez, é inteiramente justificado. Richard Hawley, o igualmente lendário crooner de Sheffield, gravou o seu disco menos crepuscular, o que pode gerar algum desapontamento nos fãs aguerridos. Melhor escutado, Lady's Bridge vem a revelar-se tão sedutor quanto o cancioneiro que o antecedeu. E depois ninguém tem hoje em dia a coragem, o talento e a genuinidade para concorrer no mercado da música com uma proposta que não esconde a postura absolutamente fora de tempo. Hawley não é só jurassic-labour. É mais que isso jurassic-pop. O sueco Jens Lekman, ainda para mais num ano em que os Magnetic Fields primaram pela ausência, ocupa merecidamente um dos lugares cimeiros nas minhas preferências. Os seus outros discos são mais ou menos tão bons quanto este. Talvez aqui a arquitectura sonora seja de outro calibre, o revestimento das canções menos artesanal, sem que no entanto se perca aquele lado irresistivelmente à beira do kitsch. Muito bom também. O CD de Steve Jansen comecei por ouvir a caminho do concerto de David Sylvian em Braga. No carro, em fundo, e a qualidade deste logo sobressaiu. Foi gravado com vagar e nota-se que tudo o que nele consta foi lá colocado com elevados critério e bom gosto. Os convidados dão outra prova de que Steve Jansen só teve a ganhar com a ponderação sensível em todo o alinhamento de Slope. É obra que surge discreta, distante das pistas ondem correm os notáveis mas que, qual maratonista, produzirá ecos que perdurarão por muitos e bons anos. Slope é valor seguríssimo. Fennesz com Sakamoto, por um lado, e a francesa Colleen, por outro, aquietaram mais ainda a sua produção, trocando o efeito surpresa pela valorização da pureza expressiva da música sustentada em grande parte por elementos acústicos. A intervenção do piano de Ryuichi Sakamoto é pelo menos tão distinta em Cendre como nas suas colaborações com Alva Noto. E a malha sonora que o envolve ligeiramente de outra natureza (trocou-se a concentricidade dos apontamentos electrónicos pela textura sonora de "vespeiro", em desacelerado). Cécile Schott (conhecida no meio artístico por Colleen) enveredou pelo caminho da austeridade em Les Ondes Silencieuses. Procurou causar impressões semelhantes às suscitadas pelo seu anterior trabalho - um enlevo secreto que ficará próximo dos jardins artificiais de Virginia Astley -, recorrendo agora apenas a instrumentos acústicos: viola da gamba, guitarra, clarinete, espineta (espécie de cravo). Música tranquila. CD belíssimo. Encerrando com os franceses - pois não pretendo alongar-me às restantes dez (mais seis) escolhas - refiro a terminar o melhor Benjamin Biolay de sempre: maduro, um sarcasmo pedido de empréstimo a Serge Gainsbourg que Benjamin usa mimetizando até na voz (é por demais tentador, eu sei...); enormes recursos revelados no tipo de arranjos escolhidos para as diferentes canções; brilhantismo sólido que nasce da desilusão no amor ou, tanto faz, do abdicar de quaisquer ilusões para com o ingrato sujeito. O tema é negro o bastante, mas a música por contraponto luminosa. O disco de Vincent Delerm - na verdade dois CD's mais dois DVD's idênticos, salvaguardando a parte dos extras e a maior capacidade dos suportes de imagem- serve para celebrar uma brilhante discografia de três títulos, menos grave que a de Biolay, de um romantismo que joga nos dois tabuleiros: o biográfico e o ficcional. O gesto autoral de Vincent foi sempre mais ligeiro. Contempla linhas de fuga como o humor, a auto-irrisão e o name dropping. O concerto na Cigalle mostra de igual modo um Vincent excelente comunicador à frente de uma super formação de câmara (todos os elementos tão versáteis e bem dispostos quanto ele), e a noite evolui do amplamente representado álbum do ano passado, Les Piqûres d'Araignée, para incursões por canções que apetece ouvir sempre. Tudo com doses de sobra de criatividade e uma brilhante revisitação do património muito pessoal da canção francesa por conta de um segundo CD (e de um segundo DVD de duetos: com B. Biolay, Neil Hannon, George Moustaki, Irène Jacob, Katerine..) tão notável quanto o(s) primeiro(s).

e ainda...

DUAS ESCOLHAS DE CLÁSSICA:
1. Stephen Sondheim "Company" feat. Raúl Esparza (musical, broadway)
2. Fauré "L'Oeuvre pour violoncelle et piano" Xavier Gagnepain, violoncelo, Jean-Michel Dayez, piano (instrumental, câmara)

DUAS ESCOLHAS DE JAZZ:
1. Enrico Rava Quintet "The Words and the Days" (instrumental)
2. Kurt Elling "Nightmoves" (vocal)

DUAS ESCOLHAS DE MÚSICA PORTUGUESA:
1. JP Simões "1970" (vocal)
2. Pedro Jóia "À Espera de Armandinho" (instrumental)


Mais listas só em 2008. Ninguém precisa saber que livros não andei a ler, penso eu. Todos os que não apareceram citados ao longo do ano.


E agora, por gentileza, quero ver escolhas de música daqui, daqui, daqui (só faltam os outros 40...), daqui e, muito em particular, daqui. Agradecido.

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