12.27.2007

Aquele que faltava















Climas também se podia ter chamado Rostos. Fala-se pouquíssimo neste filme do turco Nuri Bilge Ceylan, um dos melhores estreados em 2007, no qual raparei a sério a um segundo visionamento. Não oferece respostas, embora esteja cheio de psicologia. O impasse também pode ser analisado: no sentido da impura especulação. Começando por o olharmos de frente, obsessivamente. Os personagens de Climas avançam e recuam uns para os outros (uns dos outros), deixando-nos com o trabalho de interpretarmos tão demorada e sintética coreografia. Mais do que filmar o fim de uma relação - a de Isa e Bahar, interpretados pelo próprio casal Nuri e Ebru Ceylan -, o que Climas apresenta é a aparente contradição que existe entre o movimento livre da natureza em constante renovação (acentuado no forte contraste entre aquele Verão à beira-mar e aquele Inverso sob intensa neve, que até poderão ser de anos diferentes) e a angústia dos humanos que não se conseguem libertar para viver as ligações com os outros de modo natural e sem condicionalismos de qualquer espécie. Não há como pôr isto por palavras claras porque estaremos todos mais ou menos atordoados com a necessidade de sermos fiéis à nossa natureza (por descobrir, sempre por descobrir até à morte) e ao mesmo tempo gerirmos o peso da herança que nos garante que a completude existe apenas no encontro com o outro: na conjugalidade. Os homens (e as mulheres) não sabem o querem, à excepção de uma coisa: não poderá ser mais a tradição, expectativas alheias, a condicionar aquilo que eventualmente desejam. Os rostos de Climas dão então conta desse périplo, dessa errância, dessa predação, dessa perdição umas vezes mansa, outras violenta. Para começo de conversa queremos tudo, desejamos tudo. Só não nos (lhes) peçam razões, palavras. Parece desolador? O começo do mundo não o devia ser menos. Era este o filme que (nos) faltava.

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