3.11.2007

O filho da Nação




















Nada é mais comovente no novo filme de Robert De Niro que a figura do seu protagonista, Edward Wilson (Matt Damon), alguém que trai a própria existência em favor das manobras políticas do país. O suicídio do pai de Edward (quando este era ainda criança) é fundamental para tentar entender de que modo a adopção de um jovem brilhante pela pátria, o pode condicionar o resto da vida. É o que Edward permitirá que lhe aconteça ao sacrificar aqueles que ama e que também o amam. Muitos anos mais tarde, ao ler finalmente a carta deixada por seu pai (carta que ele escondera de toda a gente), Edward perceberá que se limitou a reproduzir um equívoco. Tarde de mais, pois nesse momento também ele terá consciência de que as escolhas que foi fazendo trouxeram com elas inevitáveis traições - começando pela traição de quem ele próprio era originalmente. Edward colocou os Estados Unidos da América primeiro que Deus, primeiro que a família. A principal tragédia da sua vida é algo que ele progressivamente irá esquecendo: a susbtituição dos afectos pela natureza secreta e solitária do trabalho de agente da CIA. O Bom Pastor mostra o realizador De Niro a cultivar um registo de absoluto pessimismo. O filme ressente-se do desafio de procurar tornar-se tão cerebral e opaco quanto o seu protagonista. Matt Damon é, por outro lado, extraordinário. Uma parede de betão que não permite que ninguém atravesse para o lado das suas emoções. O filme é bom sem ser memorável. Tudo bastante circunspecto e sombrio, com o drama a ver-se sufocado por rituais que também nos excluem. As actividades de desinformação parecem querer ocultar-se do próprio espectador. Reconheça-se no entanto a solidez do seu academismo a que terá faltado algum do carisma e desembaraço que fez a "glória" do cinema liberal norte-americano dos anos 70. Até porque a Guerra Fria não terá que ser sinónimo de um cinema aparentemente liofilizado de tão elegíaco. De uma elegia que a própria música ajuda a estagnar. O olhar de Edward Wilson sobre o mundo acabou convertendo-se no de Robert De Niro, ou o inverso. A pessoa que há anos atrás filmou A Bronx Tale já não mora aqui. Isto não vem a ser positivo ou negativo. Apenas diferente.

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