8.27.2007

Discos do fim da semana











Começo por Glen Campbell sings the best of Jimmy Webb 1967-1992, colecção de 24 canções quase todas insuportavelmente belas - no sentido das composições e letras de Webb serem de tal modo, e paradoxalmente, sofisticadas e terra-a-terra, que originam emoções que embaraçam mesmo sem ter ninguém por perto (há ali algo de kitsch que se liga à pureza de intenções, às coisas que acontecem no amor porque tem de ser, e ao registo da pequena história anónima, enquadrada pela vasta "parede sonora" que é como que a apropriação lírica da paisagem americana estrada fora) - que o jovem mas muito rodado jornalista Stephen Thomas Erlewine classifica, em excelente texto incluído no CD, de pop progressiva ou country pop. Percebi ao ouvir estes cerca de oitenta minutos de música, que parte do bucolismo cinemático que sempre me fascinou nas composições e nos solos de Pat Metheny terá sido influenciado por Jimmy Webb (admirador confesso de Burt Bacharach), um daqueles artesãos de génio da escrita de canções que não recordamos vezes suficientes.
Génio é também a palavra que primeiro ocorre para caracterizar essa obra-prima que é Innervisions, o melhor disco de Stevie Wonder de sempre - aguardo tranquilamente por prova em contrário... Foi gravado em 1973 e beneficia neste século de edição remasterizada que faz ressaltar mais ainda a sua musicalidade sôfrega, imparável, surpreendente. Um clássico absoluto e, como tal, daqueles objectos cujo prazer proporcionado a quem escuta tem garantia vitalícia.
Hudson River Meditations serviu de fundo às minhas últimas práticas de asana em casa. Podia ter escrito simplesmente yôga, mas quis solenizar a prosa, tratando-se de um aspecto tão central e sério na minha vida. Lou Reed conta a batida história da música que começou por fazer para proveito pessoal - o acompanhamento dos seus momentos dedicados à meditação ou ao Tai Chi -, que os amigos mais chegados manifestaram interesse em possuir cópia e que o interesse ter-se-á estendido ao ponto de justificar uma "modesta" edição oficial (pela Sounds True). O disco ainda não abandonou o fundo lá de casa, tendo no entanto dado para perceber já duas coisas: não é nenhum Brian Eno, embora a aquisição se justifique para quem se sinta motivado em quebrar com a escuta mais activa e entrar em muito lenta e liberta interacção com as repetidas, incontáveis e sempre distintas impressões sugeridas pelo minimalismo ambiental: que no caso destas Hudson River Meditations teve produção do imprescindível Hall Willner. Goste-se ou não se goste, não é justo desvalorizar a curiosidade de Lou Reed por outras possibilidades de criar música e, mais importante que isso, por ele próprio.

Também neste final de semana:
De Karen Dalton, In My Own Time e por último Colleen et les Boîtes à Musique. Apenas no que respeita aos recém-chegados.

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