4.28.2008

A lenta asfixia

















James Gray não deve mais a Coppola ou a Scorsese do que qualquer um de nós que admiramos os seus filmes. É injusto dizer-se que ele procura colocar-se do lado daquelas referências, copiando-as. Gray simplesmente acredita que se pode filmar como se estivéssemos nos anos 70 ou 80. Aqueles são os modelos de cinema que lhe interessam - assim como poderíamos acrescentar Elia Kazan ou Luchino Visconti -, mas James Gray tem as suas próprias histórias para contar, e o seu modo de as contar. Temas pessoais como o do indivíduo acossado - Tim Roth no primeiro filme, Mark Wahlberg no segundo, e agora Joaquin Phoenix (extraordinário actor) -, a "ovelha negra" que volta a procurar refúgio na família, para finalmente assistir à implosão desta. Os filmes de James Gray constroem-se por um processo de lenta asfixia, são agónicos do princípio ao fim, e estão ao mesmo tempo cheios de detalhes que descrevem um universo de banalidade, de gente comum. Olhem de novo para a imagem acima, cuja escolha foi bastante intencional. Acho que aquilo de mais belo que o cinema de James Gray tem para oferecer é o seu conjunto de figuras com a estatura exacta da vida, que nos comovem pela sua busca dos vínculos primordiais (o amor, a amizade, a lealdade), e cujo trajecto tem a marca dos sobreviventes. São filmes sobre a possibilidade de nos redimirmos aos olhos daqueles que mais importam nas nossas vidas. Nada disto é novo, mas sobre isto nunca se farão suficientes filmes. A We Own the Night/ Nós Controlamos a Noite só apetece dizer, "bem-vindo à família!".

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