4.16.2008

O anónimo Mr. Eno

É possível encontrar nas lojas de usados pelo menos um CD de Roger Eno (n. 1959), o discreto irmão de Brian sobre o qual a informação é, na proporção inversa, escassa: até no próprio site. O CD chama-se Lost in Translation e foi gravado na primeira metade da década de 90. Este Eno não foge à regra de atracção pelo ambientalismo, mas ao contrário de Brian que fez gerar novos mundos (com base em novas possibilidades), acrescentados ao que dos sons e da sua organização em música era por nós conhecido, Roger encetou o movimento oposto na direcção do bucolismo e dos idiomas perdidos no tempo. A música de Roger Eno aproxima-se em Lost in Translation da conjugação do impressionismo pastoral (passe o quase pleonasmo) de Virginia Astley, com melodias que parecem trazidas da herança celta, e com o canto gregoriano. O disco sugere a espaços o revisionismo xaroposo de Enya, reforçado pela crescente adesão a universos de mitos e lendas demasiadas vezes tratados de modo púbere. Vale a Roger Eno um princípio de despojamento onde impera a pequena forma, a insinuação melódica que se furta à grandiloquência da História e do drama. E depois há um desejo de anonimato, expresso até na organização dispersa das notas que acompanham o disco, que parece querer libertar a música de quem lhe deu - ou lhe perpetuou a - origem. O que Roger Eno terá ido buscar a outros (às fontes históricas ou aos espaços naturais), parece não querer aqui reclamar para si. No exacto oposto da popularidade e do reconhecimento justo votado a seu irmão Brian Eno (que em Maio deste ano celebra o sexagésimo aniversário; como não me canso de referir), o anónimo Mr. Eno mantém-se ligado à música e de vez em quando dá notícias. Onde Roger observa, Brian intervém.

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