A primeira vez que vi referido Cool Hand Luke (1967) de Stuart Rosenberg, foi em 25th Hour (2002) de Spike Lee, pois a personagem central do extraordinário filme de Lee, a gozar as suas derradeiras 24 horas de liberdade, tinha em casa um cartaz de onde sobressaía a figura de Paul Newman, "the man that simply do not conform". Cool Hand Luke é um filme de prisão que tem inicio na noite em que Luke Jackson decide dar cabo de uns parquímetros da terra enquanto se embriaga para matar o tempo. Acaba condenado a dois anos de detenção e já na cadeia o filme de Rosenberg prossegue no registo de um cinema popular no masculino, com os ímpetos próprios à convivência entre machos tratados a traço grosso: veja-se a sequência da jovem que lava o carro numa coreografia de excitação dos presidiários que aparam o silvado ao longo da estrada. Até ao momento em que Luke recebe a visita da mãe, e aí o patamar vai escalando ao firmamento Tennessee Williams há medida que é aflorada a história familiar do protagonista.
Cool Hand Luke é, sob a capa meritória de fita de segunda linha, um "character study" dos mais brilhantes que me foi dado a ver pelo cinema americano. Engenho do actor principal, do guião de Donn Pearce e Frank Pierson, e de Stuart Rosenberg, o espectador deixa-se seduzir pela resilência e o não-conformismo de Luke Jackson, à semelhança da reacção suscitada nos outros condenados, para depois assistir às tentativas de o vergarem sob todas as formas até que se chegue ao seu âmago de homem sem crenças (tudo é possível para o homem que em nada acredita, porque aquilo que nos equilibra é também aquilo que nos limita). O que pode tentar explicar o comportamento de Luke, do permanente desafio dos outros e de si mesmo, é a sua condição de desapego à vida (que se acentua quando lhe comunicam o falecimento da mãe) e de confronto jocozo com as figuras de autoridade. Luke é um homem sem valores, sem laços, sem nada. Um anti-herói (apesar das condecorações de guerra que lhe apontam) cujo sorriso que lhe serve de imagem esconde apenas o vazio. É alguém que joga com a vida num bluff contínuo, aguentando o embuste até às últimas consequências. "Cool Hand" Luke é a personificação do existencialismo no cenário inesperado de uma prisão da Florida.
O filme de Rosenberg tem outros méritos, embora numa primeira análise a sua figura principal consuma o pano de todas as mangas. O destino de Luke larga-nos em queda livre: podemos glorificá-lo como mártir ou despertar em nós um sentido crítico mais agudo para com o seu individualismo sem causa. Cool Hand Luke sinaliza um abismo da masculinidade (para que serve um homem vazio?), e sim o cinema americano desta época e da década que se lhe seguiu conseguia fazer percutir as cordas profundas da experiência humana. Considerem isto o meu cartaz para sempre fixado "nesta" parede.
Cool Hand Luke é, sob a capa meritória de fita de segunda linha, um "character study" dos mais brilhantes que me foi dado a ver pelo cinema americano. Engenho do actor principal, do guião de Donn Pearce e Frank Pierson, e de Stuart Rosenberg, o espectador deixa-se seduzir pela resilência e o não-conformismo de Luke Jackson, à semelhança da reacção suscitada nos outros condenados, para depois assistir às tentativas de o vergarem sob todas as formas até que se chegue ao seu âmago de homem sem crenças (tudo é possível para o homem que em nada acredita, porque aquilo que nos equilibra é também aquilo que nos limita). O que pode tentar explicar o comportamento de Luke, do permanente desafio dos outros e de si mesmo, é a sua condição de desapego à vida (que se acentua quando lhe comunicam o falecimento da mãe) e de confronto jocozo com as figuras de autoridade. Luke é um homem sem valores, sem laços, sem nada. Um anti-herói (apesar das condecorações de guerra que lhe apontam) cujo sorriso que lhe serve de imagem esconde apenas o vazio. É alguém que joga com a vida num bluff contínuo, aguentando o embuste até às últimas consequências. "Cool Hand" Luke é a personificação do existencialismo no cenário inesperado de uma prisão da Florida.
O filme de Rosenberg tem outros méritos, embora numa primeira análise a sua figura principal consuma o pano de todas as mangas. O destino de Luke larga-nos em queda livre: podemos glorificá-lo como mártir ou despertar em nós um sentido crítico mais agudo para com o seu individualismo sem causa. Cool Hand Luke sinaliza um abismo da masculinidade (para que serve um homem vazio?), e sim o cinema americano desta época e da década que se lhe seguiu conseguia fazer percutir as cordas profundas da experiência humana. Considerem isto o meu cartaz para sempre fixado "nesta" parede.