4.04.2011

Tempos diferentes, tempos iguais





















Rosanna Arquette filmou com Scorsese em duas ocasiões nos anos 80: After Hours, de 85, e Life Lessons, de 89, este na minha presumida opinião o melhor Scorsese de sempre. Nos dois filmes, Rosanna representa um óbvio objecto de desejo, no que em After Hours é caricaturado logo em razão do protagonista, o desgraçado Griffin Dunne, se encontrar a ler o Trópico de Câncer instantes antes de a conhecer. A tensão que se cria pelo modo como Scorsese a filmou, apesar do carácter subversivo, seja ele de tom sarcástico ou cínico, leva-me a pensar que o realizador terá manjado a actriz com algo mais que os olhos ou a lente de filmar. Havia uma tensão entesoada assim nos filmes de Hitchcock, embora a voz corrente tivesse garantido que os casos terão ficado pelo platonismo. Mas nos anos 80, com o frenesim e a libertinagem potenciados pela coca, o nosso Marty só não terá ferrado o belo naco se o desejo baixado à esfera da realidade estivesse muito aquém do que ele nos mostrou. Rosanna Arquette era por demais deliciosa. Será que a Paulette e a Marcy personificadas nela – a cuequinha púbere, os dentes marotos, as proporções de odalisca caucasiana – retinham da mesma o abismo dos traços psicológicos? Ainda assim... muitos dariam o passo em frente: é dos filmes.

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