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A pouco e pouco e bastando ter passado para lá de metade da primeira temporada, torna-se cada vez mais seguro dizer que o tema central de Deadwood é a violência. O contexto da série é hostil, a linguagem usada é rude, a ausência de lei reconhecida por todos conduz a que os homens resolvam os assuntos pelos meios próprios. O instinto da violência foi sendo reprimido dentro de nós pelo processo civilizacional que impôs valores de ordem religiosa e moral. A civilização trouxe outros métodos dos homens se imporem uns aos outros. A violência tornou-se marginal; virou tabu. Não fica bem dizer que nos seduz. Mas o impulso resiste, ou melhor persiste numa zona escondida, e uma série como Deadwood permite alguma catarse. A violência, até pela sua representação, potencia a sensação de estarmos vivos. O que não é a mesma coisa que correr riscos de facto. Actualmente vive-se mais, poupam-nos à dor, educam-nos para uma intensidade de vida controlada. O homem passou a demarcar-se quase por completo de um historial de violência. Do contacto directo com os efeitos da violência. O fascínio que Deadwood poderá exercer resulta também do apelo à nossa natureza primitiva, à memória longínqua do tempo em que se tomava o destino nas próprias mãos. Do que isso implicaria para que nos sentíssemos completos. Agentes da nossa vida. Heróis da nossa história. Como num processo de aceitação da nossa mortalidade.