1.18.2010

Inglourious basterds nordestinos




















O post esteve para se chamar "os novos barbudos". Depois, menos imaginativamente, "aquele querido mês de Agosto". Pesou a herança Tarantino, porque o que os Cidadão Instigado fazem no seu terceiro disco, Uhuuu!, é semelhante ao regurgitar psicadélico de várias correntes musicais das décadas de 70 e 80 (progressivo nordestino, rock-FM nordestino, electro-pop nordestino, power pop nordestino, MOR nordestina), e o delírio daí resultante produz efeitos concorrentes com a última obra do realizador americano: é kitsch, é foleiro, é excessivo, é de génio. A gente ainda consegue ver as influências apesar da distorção da perspectiva. O pessoal do Cidadão Instigado, barbudos nascidos no Ceará, nordeste do Brasil, que se dão com a malta dos Los Hermanos e projectos derivados, dá a impressão de terem sido raptados há um par de décadas atrás por uma nave extra-terrestre, e quando finalmente os alienígenas desistiram de lhes fazer a infrutífera lavagem ao cérebro, atiraram com eles de volta ao planeta Terra para que continuassem a fazer o seu prog-rock de baile, mas com a tecnologia do séc. XXI. Imaginem um ringue de boxe onde se defrontam as sensibilidades estéticas de Reginaldo Rossi, cantor de charme de vistas largas e óculos escuros, e Bill Conti, compositor, entre outros, da partitura pujante para a série de filmes Rocky (Balboa). Anacronismo delirante que gera contágio imediato. E ainda para mais, estes Cidadão Instigado, quando não estão a pastilhar num universo lírico, lisérgico e muito pós-moderno na sua naivité autoconsciente, dá-lhes para escrever canções de amansar o corno que puxam para dançar. Com eles o prato é rock, é electro e é completo.

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