5.19.2009

Tinhas razão, amigo João









Deixarmo-nos disso
18.05.09
Quando eu era novo mexia-me muito; participava; dava-me ao trabalho; fazia sugestões. Agora já não. Estou como o P2 do outro dia a propósito do Mini: “É tão giro ter 50 anos”. É sim. E uma das coisas mais giras é a modalidade de deixarmo-nos disso. Nunca faltam actividades das quais podemos desistir. Ao contrário da aprendizagem, não custa nada. A fase em que se cai da bicicleta não existe. Em vez da learning curve há apenas uma yearning kerb: uma berma à beira da estrada onde uma pessoa se senta para ver passar os ciclistas e gozar as saudades dos tempos em que ainda se sonhava com a camisola amarela. Aos velhos dão mais prazer as poucas coisas importantes e as muitas ninharias. Como o facto da berma das estradas americanas se escrever curb. Já não impressiona ninguém, mas até isso satisfaz; isso de termos deixado de nos queixar de que já ninguém se impressiona com a ortografia, que nem o nome num muro sabem pichar, etc. Já o deixar disso, quando é bem feito, choca um bocadinho. A militante da neta pergunta “Ó avô, então tu não vais votar?” E, desta vez, é ele que encolhe os ombros em genuíno whatever, como vingança por todos os uotéveres com que levou dos ingratos dos jovens que tentou aconselhar: “Para quê? Deixei-me disso. Olha, tu também havias de te deixar disso, que só arranjas desilusões e não é desiludida que arranjas marido…” E se ela mesmo assim se sentar para discutir o assunto, ele não discute. Deixou-se disso. Disso também. Disso sobretudo.

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