A escrita de Apatow atinge neste filme um claro apogeu, apesar da montagem final (no caso a edição DVD que corresponde à minutagem da versão comercial) revelar eventuais cedências que se fazem sentir nas alterações abruptas do ritmo do filme na segunda metade. Abrem-se mesmo assim excelentes perspectivas para o novo Apatow, This is 40!, com estreia em Portugal anunciada para o final de Fevereiro.
De volta a Funny People, e a um dos seus maiores prazeres, é de realçar o trabalho com os actores recorrentes nos filmes de Judd Apatow, entre eles Seth Rogen, que o realizador continuamente promove como projecto de homem de família de que ninguém está à espera. Numa das melhores sequências de Funny People, uma antiga namorada de George (interpretada pela mulher de Apatow na vida real...), de quem este se reaproxima doze anos mais tarde, quando o comediante tem conhecimento de que sofre de uma forma rara de leucemia que o pode vir a matar (mas depois fica curado), mostra-lhe a ele e ao amigo Ira (Seth Rogen) um vídeo da filha (protagonizada por uma das filhas de Apatow na vida real...) que interpreta no palco da escola o tema Memory do musical Cats. A indiferença de George é contrastada pela comoção de Ira, que não é de todo a quem aquele momento é dirigido. Ira está ali no papel de escudeiro do humorista da triste figura (Sandler), que não merece reaver a sua princesa. O conto de fadas moderno é outra das dimensões que se podem retirar desta comédia kamikaze, que lida com a acidez do humor despertado pela proximidade da morte, que o prolongamento da vida se encarregará de revelar ser produto de uma natureza cínica e solitária não inteiramente incapaz de experimentar a pequena redenção. A troca de papéis da última cena é disso exemplo, e o corolário de um filme inteligente e divertido. O menos “perfeito” (porque truncado, apesar da sua duração de mais de duas horas) mas o mais complexo e polimórfico trabalho de Judd Apatow.