12.10.2012

Emoções frias, frívolas ou adolescentes















É bem possível que Amour/ Amor seja o melhor filme de Michael Haneke desde que passou a contar com capital francês nas suas produções. Merece-me o máximo de consideração que posso ter por um objecto que é trabalho de um artista inteligente, culto na sofisticação dos modos e das formas, mas extremamente calculista nos efeitos que pretende criar com o seu trabalho. Existe muito amor neste filme de Haneke, no sentido do cuidar do outro (o ser amado), mas o investimento gela em momentos significativos que parecem ser, pelo contrário, a razão última de existir do projecto: o cadáver "mumificado" do início descoberto após arrombamento da porta da casa, a música que a imagem sugere ser tocada ao piano e que alguém interrompe desligando o CD (simply clever), e o homicídio que fica por esclarecer se resulta de acto de misericórdia ou demência. Admiro o trabalho de Michael Haneke, e este Amor em particular, mas nunca será cineasta a que adira incondicionalmente. O carácter demonstrativo e cru (quando não cruel) deste cinema privilegia demasiado o brilhantismo da inteligência em prejuízo das emoções de que somos também feitos.















Anna Karenina é um filme vistoso, estruturado em contribuições artísticas de prestígio (o dramaturgo Tom Stoppard, o coreógrafo e bailarino Sidi Larbi Cherkaoui), que tudo trabalha com tal vontade de saciar o olho que é a própria dramaturgia a ser atropelada antes que tal suceda com a heroína de Tolstoy. O realizador Joe Wright não dá tempo a que o drama se instale de maneira que não seja superficial, e o objecto peca igualmente pela falta de actores que imprimam a sua marca no ecrã (beleza e juventude não são sinónimos de carisma e talento, senhor Wright!). Os que aqui busquem cor e movimento saem entretidos. Os que procuram drama e sentimento cedo percebem que o programa saiu furado. Os que prefiram algo do género mas em bom devem seguir para o Senso de Visconti, feito no distante ano de 1954. 














O filme de Tony Kaye, Detachment/ O Substituto é de um romantismo tão adolescente no modo como insiste até final com a litania pela tarefa inglória dos professores e das igualmente trágicas existências de jovens problemáticos, que o seu trabalho parece dirigir-se fundamentalmente a estes últimos, com o intuito de despertá-los para os valores da vida. O resultado é limitadíssimo, a começar na figura crística do professor de substituição interpretado por Adrien Brody que carrega na alma as penas de todo aquele universo, caracterizado, o professor também, por uma humanidade excessiva em que se deixa de acreditar (Brody/ Henry Barthes comenta igualmente para nós fora da acção do filme). Detachment propõe-se provocar, agitar consciências, e chega a ser confrangedor na sua autocomplacência, de tal modo é ingénuo nas formas como o faz: visual e narrativa. Para ver em muito melhor é favor dirigirem-se a Half Nelson/ Encurralados (2006), de Ryan Fleck.

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