Os quatro primeiros discos dos Arctic Monkeys sugerem um paralelismo com os quatro últimos dos Pulp. Podemos comparar tudo com tudo, mas é óbvio que se trata de diferentes essências para começar. Os Arctic Monkeys não voltaram a ser excitantes como nos tempos de
Whatever People Say... (2006) e
Favourite Worst Nightmare (2007), o que não implica que o seu pop rock tenha perdido qualidades: apenas se tornou mais cerebral e adulto, em contraste com o poder enérgico de efeito imediato que
Humbug (2009) já não trouxe, até por ser o álbum dos Monkeys onde os temas mais se estendem e a densidade sonora é mais sensível.
Também os Pulp não voltaram às canções absurdamente contagiantes de
His 'n' Hers (1994) e
A Different Class (1995), o que de novo não quer dizer que tivessem perdido gás. Era sim um outro tipo de gás: menos inebriante talvez, mas que prendia por uma viscosidade de música e letras que estava no conceito (
This is Hardcore, 1998). Isto para justificar que o novo Arctic Monkeys,
Suck It And See, corresponderá ao derradeiro título da discografia dos Pulp,
We Love Life (2001), cujas qualidades eram menos evidentes mais ainda nas primeiras audições, e que consequentemente foi recebido com um entusiasmo geral morno. Por paradoxal que possa parecer, os ganchos musicais dos Arctic Monkeys do presente pertencem à sua segunda pele, curtida pelas temperaturas quentes do deserto californiano.
Faça-se o seguinte exercício: dividir
Suck It and See em três partes de quatro temas (o disco tem um total de doze). O bloco central, que se inicia com
Don't Sit Down 'Cause I've Moved Your Chair (os Arctic Monkeys ao seu melhor nível de sempre) e acaba em
Reckless Serenade, mesmo após escutas repetidas de todo o CD, é o que sempre se destaca. Dele faz ainda parte outra das melhores canções do disco,
All My Own Stunts, onde participa Josh Homme (que produzira grande parte do anterior
Humbug, figura maior do desert rock ou stoner rock da Califórnia), faltando apenas referir o segundo tema deste alinhamento que é
Library Pictures. No resto do disco, composto pelos primeiro e terceiro grupo de quatro músicas, os Arctic Monkeys assumem com naturalidade a versão madura deles próprios. A escrita de canções é menos vistosa, rareiam os tais ganchos do rock em cenário californiano (
Suck It and See foi gravado em Los Angeles), e o auditório juvenil corre riscos de aborrecimento. O que, tendo sido injusto para os Pulp, de novo o seria para os Arctic Monkeys.