11.05.2011

Um filme feliz sobre a morte



















A morte é aquele assunto de que ninguém quer falar. Filmar não facilita as coisas, sobretudo para quem se propõe tratar de forma ligeira tema tão sério. Podemos lembrar por outro lado a sabedoria popular que diz "quem canta seus males espanta". Poucos cineastas atingem a maturidade necessária para fazê-lo (ocorre-me a filmografia de Clint Eastwood, referência de topo): figurar a fronteira entre vivos e mortos como se esta de facto não existisse, e pudéssemos manter o contacto com quem bem entendêssemos e isso fosse materializável no ecrã. O cinema de Restless (título que só pode ser tomado pelo sentido irónico) não pretende superar a morte, antes integrá-la no seu programa factual, e de tal forma que não existe separação entre ela e a vida. A história de Restless dura cerca de três meses, o tempo de vida que os médicos dão a Annabel (Mia Wasikowska), uma jovem que gosta de roupa rétro e de desenhar pássaros, que irá cativar a atenção de Enoch (Henry Hopper), um quase adulto, como ela, que comparece a funerais de gente que não conhece e mantém um amigo imaginário na figura de um soldado kamikaze. Estamos em território indie por excelência, só que é de tal modo desafectado o tratamento que Gus Van Sant dá a esta história de um amor feliz apesar do curto prazo, que é frequente o espectador sorrir em face da tragédia. Van Sant, como referi atrás, filma a presença da morte na nossa vida e nesse sentido podemos sempre atravessar para o outro lado. Basta ter imaginação, coisa que não falta a Restless. Imaginação e liberdade. E são extraordinários os jovens actores no par do filme. A morte fica-lhes bem porque eles aprenderam a tratá-la como um igual.

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