11.30.2011

Para um amor de agora





















A Cinemateca prepara-se para exibir em Dezembro uma integral Nicholas Ray. Ray e cinema são sinónimos perfeitos para muitos cinéfilos. Eu detenho-me no seguinte paradoxo. As relações entre homens e mulheres nos filmes de Nicholas Ray são fascinantes. É como se representassem a idealização do amor, na sua máxima potência, sabotada por um fatalismo, não menos poético, que condena aqueles que só sabem viver sentimentos extremos. Um desencontro de séculos, um combate de orgulhos magoados, que Ray nunca encenou tão perfeitamente como nesta cena de Johnny Guitar, decorridos cerca de 40 minutos de filme.

JOHNNY: How many men have you forgotten?
VIENNA: As many women as you've remembered.
Johnny: Don't go away.
Vienna: I haven't moved.
Johnny: Tell me something nice.
Vienna: Sure, what do you want to hear?
Johnny: Lie to me. Tell me all these years you've waited. Tell me.
Vienna: All these years I've waited.
Johnny: Tell me you'd a-died if I hadn't come back.
Vienna: I woulda died if you hadn't come back.
Johnny: Tell me you still love me like I love you.
Vienna: I still love you like you love me.
Johnny: Thanks. Thanks a lot.


Lindíssimo, verdade? E logo a seguir, momentos antes de lhe cair nos braços, Vienna acrescenta: "Pára de sentir pena de ti próprio!". No começo da cena, quando Johnny está de costas para ela, o olhar da mulher mostra a comoção que procurará esconder depois. Johnny tê-la-á deixado cinco anos antes; ela tê-lo-á procurado em todos os homens que teve depois, mas o amor persiste. E quando o amor persiste não há nada a fazer. O amor transcende e é também perfeito sinónimo para o cinema de Nicholas Ray. Como se este procurasse um amor igual em todos os filmes que fez depois.

O filme completo:

Arquivo do blogue