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Toda a gente verá n'O Barão a alegoria política do salazarismo mas até é mais do fascismo em termos genéricos, apesar dos apontamentos culturais e iconográficos que remetem para o Portugal da ditadura. Há outro aspecto no filme que me causou maior impressão. A solidão do protagonista, o Barão que Nuno Melo personifica quase a roçar a paródia, um ser exilado nas trevas do seu domínio habitado por fantasmas, sendo o mais proeminente o de uma mulher que perdeu ou que não soube amar. O Barão é o filme de Edgar Pêra mais controlado em termos estilísticos, embora a câmara (escura) de ecos que produz crie em vários momentos a sensação de redundância. Não tenho problemas em que o filme hesite a começar e a fazer desenrolar a sua trama, pois a lógica que impera é a do pesadelo, a da alucinação. Alguns efeitos e algumas frases repetidas parecem no entanto ter um papel de mero enchimento para encher a paciência. O Barão ganhava em ser mais focado nos temas que trata, apesar de eu aceitar também que Edgar Pêra o tornou desfocado propositadamente. E o coro d'O Barão é um achado, até à "contagem final" (é favor permanecer sentado durante a passagem dos créditos do filme).