4.26.2009
"Tyson" IndieLx09 24.04.09
Saio de Tyson (hora e meia a piar baixinho para dentro) com vontade de inverter a proposição de Primo Levi e gritar: "se isto (não) é um homem!". Saio calado e comento: ou a minha sensibilidade diverge da dos outros homens, ou Tyson fala para a masculinidade em geral. Os problemas respiratórios do jovem Mike que se prolongam na vida adulta, que se ouvem nos derradeiros segundos deste assombroso documentário de James Toback. A vocação para fazer das fraquezas forças, para se deixar encurralar por uma sensação de medo angustiante até à explosão que se dá e repete no ringue. A tensão acumulada e a urgência da descompressão que pode resultar numa "carga de porrada" (as histórias do reformatório e do irlandês que primeiro ensinou Tyson a combater). As mulheres. Mulheres fortes, com cargos de responsabilidade, para serem dominadas através do sexo e fazerem-nos sentir poderosos. O sexo. Que Tyson aprenderá mais tarde ser melhor após um longo período de abstinência (e diz qualquer coisa como isto, as mulheres levam muito mais de nós do que aquilo que dão; as mulheres que ele conheceu pelo menos). Uma vida de excessos proporcionada pelas suas capacidades excepcionais enquanto pugilista. A catarse pelos combates. A crença nele mesmo incutida pelo treinador Cus D'Amato. O exorcizar dos demónios pessoais (o pai ausente, a mãe promíscua) que apenas acontece(?) após o abandono do boxe com a dedicação à família (seis filhos). A sensação que fica de que o combate decisivo é aquele que connosco travamos. Mérito colossal o de James Toback de pôr Mike Tyson a "pensar alto" para a câmara (para nós), revelando um exemplo paroxístico de humanidade. De enquadrar o discurso do campeão – torrencial como os socos que dava para destruir os opositores –, procurando chegar até ele como alguém que persegue a resolução de um enigma: um monstruoso cubo mágico, por exemplo, que Toback parece conseguir preencher em parte (alguns aspectos da personalidade de Tyson que nos atingem poderosamente; faces ou cores que se completam), sem que o todo alguma vez pareça serenado, em harmonia. Tyson é um documento incontornável sobre as forças e equívocos da condição masculina. A besta que se esconde (aguarda adormecida) no interior dos homens. Se pudesse agora gritar, diria: "Mike Tyson, you're my brotha!".
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