4.24.2009
"Encounters at the End of the World" IndieLx09 - Abertura
Werner Herzog não se deslocou ao IndieLisboa para a retrospectiva que lhe é dedicada, por se encontrar com três projectos em diferentes fases de produção. Mandou o amigo e produtor de longa data Lucki Stipetic, que leu uma carta do realizador antes da sessão de abertura. Herzog diz que raras vezes sonha e que os seus filmes se alimentam dos sonhos de outros homens. A história de Encounters at the End of the World também. Werner Herzog recebeu do colaborador e amigo, músico e há época mergulhador nas profundezas da Antártida, Henry Kaiser, imagens submarinas recolhidas para lá das densas camadas de gelo, que conduziram a que Herzog aceitasse o convite da Fundação para a Pesquisa Científica para a concretização de um documentário sobre a base de McMurdo no Pólo Sul. Partindo sem estratégia prévia, o que Herzog faz (e narra) é começar por observar as primeiras coisas que o impressionam, falar com as pessoas que vai conhecendo, e ir depois ao encontro de outros grupos de trabalho nas redondezas. As imagens de Encounters at the End of the World, dos espaços desoladores de McMurdo ao infinitos glaciares em volta, podiam suscitar uma qualquer epifania estética ou mística da parte do espectador, coisa a que Herzog apenas acede no reencontro com as cenas marinhas que tanto o interessaram. Herzog puxa pelo lado burlesco das situações e assinala as excentricidades dos vários interlocutores, nas experiências de vida que nos são narradas pois da interacção de uns e de outros quase nada ficamos a saber. Mas até um empírico como Werner Herzog não consegue evitar colocar-se algumas questões filosóficas naquele ponto tão extremo do mundo. Motivadas sobretudo pela pesquisa das formas microscópicas e primitivas encontradas no fundo do mar gelado, seres em muito anteriores à espécie humana e que tudo indica lhe sobreviverão. Encounters at the End of the World satisfaz-se em testemunhar as coisas por aquilo que são (o tal "êxtase da verdade" que se colou como assinatura à obra de Herzog). O seu programa faz-se da irreverência das questões (um sarcasmo sem maldade presente nas observações e comentários do realizador), e do concreto inusitado das situações. Herzog renova a promessa original do cinema de mostrar coisas pouco vistas e histórias de vida pouco conhecidas (apetece acrescentar que o realizador alemão parece encarar as prováveis alterações do planeta e extinções daí decorrentes com um entusiasmo juvenil). E em vasta medida, cumpre-a.
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