4.12.2009

Águia vitória


























A River Ain't Too Much to Love, Woke on a Whaleheart e agora Sometimes I Wish We Were an Eagle. Os três últimos discos de Bill Callahan (o primeiro dos quais assinando ainda Smog) receberam títulos que podiam designar traduções de António Lobo Antunes em língua inglesa. Os pontos em comum terminam aí, taxativamente, já que Callahan vem tornando-se uma criatura de luz que mesmo quando enumera demónios nas suas letras, logo os apazigua com a música. Sometimes I Wish... tem pouco da claustrofobia instrumental de marca Smog, e volta a abrir-se, tal como o disco que o antecedeu, às cores exóticas produzidas pela pequena orquestra que o ornamenta, como na terceira faixa, The Wind and the Dove (título que pode ser uma alusão mesmo que inconsciente a Henry James). A partir deste momento pode dizer-se que Callahan assume inteiramente a encarnação musical da sua maturidade, mais afastado da pop saturada de matriz velvetiana, e liberto nos espaços amplos de um Jimmy Webb ensimesmado. A leveza que vamos descobrindo em Sometimes I Wish... é a de alguém que parou de se olhar das profundezas para cima, e passou a observar-se do alto, em plano aberto e voo rasante. Bill Callahan tornou-se uma ave de rapina que não vem comer à nossa mão.

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