1.29.2009

Faca de dez legumes

«Nunca pensei que foder fosse uma coisa tão boa. Se quisesse contar como foi a minha trepada com Guiomar, eu tinha que ser um escritor daqueles que escrevem livros grossos cheios de páginas. O que eu sei é que depois de fodermos não sei quantas vezes eu fiquei deitado na cama, ela com a cabeça em cima do meu peito, feliz como nunca.
Então me lembrei de perguntar se ela sabia lavar, passar e cozinhar. Não sei, meu amor, ela respondeu, trabalho e quando chego em casa janto sopa dessas de envelope que você põe numa xícara grande, joga água fervendo, mexe e pronto, é só comer. Você já tomou essa sopa? É baratinho, no meu supermercado tem de galinha, carne, dez legumes, ervilha com pedacinhos de torrada, brócolis e uma porção de outras, eu gosto de galinha.
Eu nunca tinha comido uma merda daquelas e duvido que o meu velho também tivesse. Guiomar não sabia lavar, passar nem cozinhar e eu devia dar um pé na bunda dela, mas não dei. Pensei, vou foder mais uma vez depois boto para escanteio.
E fodi mais uma, mais duas, mais três. Fodi o mês inteiro e mais outro mês e não botei ela para corner. Eu estava apaixonado. Perguntei se ela queria morar comigo. Ela queria. O morro onde Guiomar morava era longe do Leblon, onde ficava o supermercado em que ela trabalhava.
Guiomar mudou para minha casa. Aprendi a cozinhar e a lavar. Guiomar entra às nove horas no supermercado e eu, que sou porteiro de noite, fico em casa, lavo a roupa e ponho para secar num varal na laje, cozinho e deixo o jantar pronto.
Jantamos juntos antes de eu ir trabalhar. Quando volto, Guiomar ainda está dormindo e eu deito na cama e fodo ela ainda dormindo e ela acorda e diz que me ama e eu digo que a amo e fodemos novamente.»

[Ela e Outras Mulheres, Rubem Fonseca, página 47 inteirinha]

Prefira o original. Um escritor fodido de bom.

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