1.15.2009

Ressaca


























Penso que os episódios especiais que encerram as derradeiras épocas das séries The Office e Extras resultam numa espécie de ressaca por antecipação da exuberância dissimulada que esgotam para sempre. A estratégia de Ricky Gervais e Stephen Merchant, se é que se pode falar de estratégia quando o processo de criação mais parece assemelhar-se a um movimento de progressão no caos provocado e diria até inevitável, frusta as expectativas dos que procuram a closure (resolução, fechamento) quando os dois autores preferem a suspensão daquele fluxo de pinguinhas. Os personagens de The Office e Extras estão condenados a que os fixemos numa espécie de eterno contínuo: uma tónica existencialista (que roça o absurdo) não dá lugar à transformação ou a qualquer mudança significativa que os liberte na ficção permitindo que a relação com o espectador se arrume em definitivo. E eles andarão por aí, para que os recordemos por aquilo que são: imperfeitos e condenados. O especial de Natal da série Extras, que resulta desta co-produção pioneira entre a BBC e a HBO, é pela maior densidade que vem com a sua longa duração (cerca de 80 minutos), aquilo que propriamente é e o seu contrário: gratuito e genial, satírico e terno, parece evocar memórias de Chaplin e de Fellini, só aparentemente inconciliáveis. Ou não fossem as criaturas de Merchant e Gervais igualmente cínicas e ingénuas, vivendo de anseio em desencanto, sonhando com a fama e despertando para a estagnação. Cercadas pelo banal.

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