1.26.2009

Conta-me fábulas












O Estranho Caso de Benjamin Button actualiza com tal fidelidade a «fórmula» Forrest Gump, que sou levado a pensar que o seu argumentista - o mesmo Eric Roth - terá pretendido escrever esse filme uma outra vez. É uma fábula que explora de modo terno e ligeiramente melancólico os seus vários paradoxos: começando por aquele que diz respeito à excepcionalidade de Benjamin Button, de resto um homem com as aspirações e os sentimentos de qualquer outro. Há uma espécie de lado Disney para adultos no filme de David Fincher, que não é menos prodigioso do ponto de vista técnico que o resto da sua obra. O Estranho Caso de Benjamin Button trata a existência humana como uma aventura, não deixando de assinalar a passagem do tempo num tom conciliatório: a vida é representada como um somatório de experiências, boas e más, e de oportunidades, sobretudo ganhas. E naquele tom de pragmatismo que relacionamos com a imagem que temos do americano comum conclui que a vida realiza-se na consequência que damos àquilo que melhor nos caracteriza: uns dançam, outros criam filhos, outros consertam relógios, e por aí fora. É óbvio que isto requer alguma disponibilidade para a emoção por parte do espectador, como aliás todas as fábulas o fazem. E pode-se avaliar o efeito que o filme tem (teve) ou não em nós pelo facto de sairmos da sala experimentando um certo conforto, uma indeterminada reconciliação (com o quê? talvez apenas com a necessidade de nos emocionarmos, isso basta). O Estranho Caso de Benjamin Button é um objecto sentimental que visa o maior denominador comum. Se estivermos na disposição de nos reconhecermos envolvidos pela sua condescendência, não daremos a aventura por um tempo desperdiçado.

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