1.22.2009
O calcanhar dos Aquiles
Os homens de Philip Roth são seres condenados pela avidez sexual (sexual rapacity é expressão bem mais forte), e mesmo confrontados com a falência irreversível poderão ainda ceder a devaneios eróticos. Coleman Silk em The Human Stain, livro de Roth que deu bom filme dirigido por Robert Benton, não é caso terminal (ele recorre ao Viagra; o vigor dos engates nas livrarias e dos KO's obtidos nos ringues esgotara-se há muito) mas o seu derradeiro amor resultará em tragédia.
Porque li recentemente Indignation, onde se pode especular se o fim do protagonista terá ou não origem num personagem feminino, a colega de Universidade Olivia Hutton com quem sai uma noite e que lhe proporcionará daquelas estupefacções que jamais se esquecem, dei por mim a pensar em Olivia ao ver no ecrã Faunia Farley (interpretada por Nicole Kidman), mulher igualmente de "virtude fácil" e também com sérios traumas psicológicos. Há aqui um padrão, e penso que esta espécie de vertigem do escritor o empurra para uma visão redutora da sexualidade. Mas isto não rouba nada ao fascínio que a obra de Roth nos suscita, até porque os preconceitos transitam de autor para leitor e moralizarmos seria hipócrita.
Encontramos Coleman Silk (Anthony Hopkins) numa das suas últimas aulas, falando de Aquiles e do episódio da Ilíada onde o rapto de uma mulher serve a disputa entre o herói e Agámemnon. Silk perderá a própria mulher na sequência da perturbação causada pelo processo de difamação que movem contra ele, permanecendo sozinho até se cruzar com a jovem Faunia que tem metade da sua idade e que traz atrelado um ex-marido que pretende reconquistá-la. A partir daqui a história do filme é a história da batalha de Silk, que será breve, e onde o seu desejo só em parte será desforrado (não é sempre assim?).
Penso que podemos ler os livros de Philip Roth como um acerto de contas face à avidez sexual que se impõe enquanto sentido principal da vida, e consequentemente em relação à beleza feminina que a instiga. É como um fogo interior que nunca se apaga, daí a razão de os seus livros queimarem de dor (tornada revolta mais ou menos mansa com a velhice e as suas evidências), e arderem esplendorosamente.
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