10.30.2009

Feras amansadas




Femina representa o oposto do fado que não se deitou e de madrugada chama pelas guitarras ("acordem as guitarras!"). O instrumento do Legendary Tigerman está esgotado e pede cama. São os derradeiros estertores da noite que vinha apagando do horizonte a possibilidade do dia. Femina relata o combate da sedução e do cansaço em 13 assaltos. Sorte a dele, do Tigerman, que as "tigerladies" parecem de igual modo esfumar-se cada qual atrás da sua fachada, habitando esta pulp fiction mental desencantada. É tudo a fingir, nenhuma fantasia será violada. O disco é bom porque seduz com a tradução coesa de um universo onde impera o simulacro. Tanto são o rock ou o blues ecos distantes que apenas esboçam as suas coordenadas originais, como os pares que mudam a cada canção se encontram limitados a representar paradigmas de uma longínqua mitologia. Há aqui em programa uma luxuosa idolatria a explorar: Velvet, Tarantino, (Asia) Argento, Gainsbourg, (Nancy) Sinatra, Cash, film noir, Graceland, Lynch, Betty Page, Marilyn. Vozes sonâmbulas observam coreografias que se lhes substituem. O baile de máscaras tem aqui monumental continuação. É favor manter ligado o projector.

Arquivo do blogue