10.29.2009

Hassell Nº5



















Será música de Spa? Ocorreu-me responder (impulso que refreei) que cada um tem o Spa que merece. Não me esquivo a dizer que perdi a conta às vezes que usei a música de Jon Hassell nas práticas de yôga em casa. Mas porque a provocação veio de alguém que estimo e cuja reflexão em torno dos filmes respeito, acrescento que a actuação de Jon Hassell & Maarifa Street no Maria Matos se assemelhou a um longo plano-sequência que obrigou à forte concentração (à permanente focagem/dispersão; à constante tensão/distensão) por parte daqueles que almejavam a leitura instante a instante do que sucedia no palco. Foi um encontro com o último disco, Last Night the Moon Came Dropping It’s Clothes in the Street (ECM), só que ao vivo. Iluminação despojada aquém do essencial e a quase imobilidade dos músicos, com excepção para Jan Bang que fez do live sampling o elemento espectacular. Eu partia em busca da fragrância da música de Jon Hassell – na linha em que Brian Eno se referia aos (seus) sons como perfumes –, algo que os discos não permitem que se liberte do frasco por inteiro. Procurei com as narinas primeiro... em vão. Na fila da frente alguém usava o familiar Terre d’Hermés, e eu não sentia mais nada. Percebi então que o aroma made chez Maarifa Street se atingia com os demais sentidos. E que resiste à nossa capacidade de o descrever tal como acontece com a música do Quarto Mundo. As suas notas pareceram-me quentes e persistentes. Senti-me atravessado por uma corrente porosa que se espalha e me cercava, polvilhada de apontamentos eléctricos de um acaso premeditado (a resolução deste paradoxo deixo para pensar depois). As composições eram obra do momento, ainda que de um momento que resulta da sedimentação de inúmeros momentos idênticos anteriores. Apenas quem produz e mistura as essências de cada noite poderá notar os seus discretos cambiantes. Maior que a importância do encontro com a música do disco foi o encontro com o artista. Aplaudi Jon Hassell de pé porque nenhuma obra se joga numa única noite. A lua tem caprichos que agem sobre os homens: pode uma boa noite não ser mágica? (sim, pode). E o meu capricho, neste momento, é regressar de novo ao disco (de narinas bem abertas).

Arquivo do blogue