O novo disco de Richard Hawley, Truelove's Gutter, faz apelo somente às regiões fundas da alma. Escutei-o deitado no chão do quarto. No final dos longos interlúdios instrumentais que começavam onde começam as canções, e que avançavam como se apalpassem por entre a escuridão, a voz de Hawley surgia trazendo a impressão de amparo embrulhada em palavras de desolação: encontrava-me uns palmos abaixo da música, mas a voz parecia vir debaixo de mim; as melodias sugerindo espirais que atraíam com a força de um abismo. Talvez já não ouvisse um disco assim desde que descobri o Sinatra mais negro de Sings For Only the Lonely. A cada época o Frank Sinatra que lhe coube em sorte, e alguns de nós bem afortunados com a discografia essencial de Mr. Hawley.
