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«A que horas saiu da sala de jantar?»
«Eu?»
«Não. O administrador.»
«Por volta das três, um pouco antes. Um jogo de futebol, havia um jogo de futebol ontem à noite, e ele queria saber o resultado. Por princípio perguntaria a um empregado, a alguém que andasse ali, mas ele é muito cioso quando se trata de futebol. É sportinguista», explicou, pedindo: «Compreenda.»
Jaime Ramos fez uma cara indiferente, mas Isaltino manifestou alguma compreensão, abanando a cabeça, inclinando-a ligeiramente para o lado esquerdo. Era o seu modo de dizer que estava à espera, Isaltino tinha formas obtusas de avançar num inquérito. Rondava o inimigo. Rodeava-o de perguntas sem sentido, fingia compreender coisas sem explicação, depois voltava atrás, suavemente, como se reunisse toda a sabedoria de um vizinho atencioso, compreensivo, envolvente, vendo mais longe.
«Eu sei», disse então ele. «O senhor é sportinguista?»
«Ai de mim.» Aquilo tinha ressonâncias literária, como a confissão de um padecimento – ou então como as nuvens que passavam mais baixas, confundindo-se com a neblina estreita que caía sobre todas as árvores do Vidago, as das colinas e as do parque, cuidado e triste como um filme outonal.
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(pág. 31)
Nem eu sabia as saudades que tinha disto.