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«There are very few subjects anymore that are quote-unquote dirty to the average person, subjects that a filmmaker could endeavour against all odds to make beautiful. And this was one of them. I just felt there was some love in this story—some beauty and friendship and emotion. People could say we overaestheticized things. Obviously what happened is a tragedy. It’s not a thing to take lightly. So hopefully it’s not a frivolous beauty in the film, but a darker beauty.» (Robinson Devor, entrevistado na cinema scope)
O doclisboa começou para mim às 22h de ontem, no pequeno auditório da Culturgest. Zoo é um documentário muito (mesmo muito) na linha do dispositivo de Errol Morris, que mistura a reconstituição artística de situações ocorridas, com a voz sobreposta de gente que nelas tomou parte; que recorre a pessoas que fazem delas próprias e a actores que ocupam o lugar dos que optaram pelo anonimato; que usa a música glassiana de Paul Moore e que sobretudo revela a preocupação de tratar um caso excepcional - o grupo de homens que se reunia numa quinta do Estado de Washington para ter sexo com cavalos -, não como a prática de indivíduos dementes e anti-sociais mas como uma área protegida da vida de gente comum que a Internet aproximou e que esporadicamente se encontrava para se entregar literalmente (a bestalidade) ao amor suscitado pelos animais (a zoofilia). O trabalho de Robinson Devor e de Charles Mudele (jornalista de Seattle) prefere tratar o caso - tornado público quando um dos homens veio a morrer em consequência de perfuração do cólon - dando espaço à manifestação das razões de afecto e daquilo que abrangia a existência dos protagonistas, em vez de classificar os motivos como uma preversão deles. O resultado leva-nos a ampliar as fronteiras do que damos por humano e a criar uma relativa empatia com esta história que Devon resgata pelo que encerra de amor mais do que pelo horror. Começou bem (para mim), esta edição do doclisboa.