10.19.2007

doclisboa - dia 1




















«There are very few subjects anymore that are quote-unquote dirty to the average person, subjects that a filmmaker could endeavour against all odds to make beautiful. And this was one of them. I just felt there was some love in this story—some beauty and friendship and emotion. People could say we overaestheticized things. Obviously what happened is a tragedy. It’s not a thing to take lightly. So hopefully it’s not a frivolous beauty in the film, but a darker beauty.» (Robinson Devor, entrevistado na cinema scope)

O doclisboa começou para mim às 22h de ontem, no pequeno auditório da Culturgest. Zoo é um documentário muito (mesmo muito) na linha do dispositivo de Errol Morris, que mistura a reconstituição artística de situações ocorridas, com a voz sobreposta de gente que nelas tomou parte; que recorre a pessoas que fazem delas próprias e a actores que ocupam o lugar dos que optaram pelo anonimato; que usa a música glassiana de Paul Moore e que sobretudo revela a preocupação de tratar um caso excepcional - o grupo de homens que se reunia numa quinta do Estado de Washington para ter sexo com cavalos -, não como a prática de indivíduos dementes e anti-sociais mas como uma área protegida da vida de gente comum que a Internet aproximou e que esporadicamente se encontrava para se entregar literalmente (a bestalidade) ao amor suscitado pelos animais (a zoofilia). O trabalho de Robinson Devor e de Charles Mudele (jornalista de Seattle) prefere tratar o caso - tornado público quando um dos homens veio a morrer em consequência de perfuração do cólon - dando espaço à manifestação das razões de afecto e daquilo que abrangia a existência dos protagonistas, em vez de classificar os motivos como uma preversão deles. O resultado leva-nos a ampliar as fronteiras do que damos por humano e a criar uma relativa empatia com esta história que Devon resgata pelo que encerra de amor mais do que pelo horror. Começou bem (para mim), esta edição do doclisboa.

Arquivo do blogue