4.09.2012

Onde menos se espera

























«– Porque não arranjas um amante enquanto estás em Bali, Liz?
Devo dizer em seu favor que ele não estava a pensar nele, embora acredite que estivesse disposto a assumir o cargo. Assegurou-me que o Ian, aquele galês bem parecido, era um bom par para mim, mas que também havia outros candidatos. Há um chefe de cozinha nova-iorquino, um tipo simpático, grande, musculado e confiante de quem ele pensa que eu iria gostar. Aliás, ele disse que há todo o tipo de homens em Ubud, expatriados de toda a parte, que se escondem naquela comunidade dos sem lar e sem bens do planeta, muitos dos quais ficariam felizes em assegurar-me um Verão maravilhoso.
– Não creio que esteja pronta para isso – disse-lhe. Não me apetece passar outra vez por todo o esforço que o romance envolve, sabes? Não me apetece ter de rapar as pernas todos os dias ou ter de mostrar o corpo a um novo amante. E não quero ter de andar sempre a repetir a minha história ou de me preocupar com medidas contraceptivas. Seja como for, já nem sequer tenho a certeza se ainda saberei fazê-lo. Sinto que estava mais confiante em relação ao sexo e ao romance quando tinha dezasseis anos do que agora.
– É claro que estavas – disse o Filipe. – Nessa altura, eras jovem e estúpida. Só os jovens e estúpidos se sentem confiantes em relação ao sexo e ao romance. Pensas que algum de nós sabe o que está a fazer? Pensas que há alguma maneira de os humanos se amarem uns aos outros sem complicações? Devias ver o que acontece no Bali, querida. Todos estes homens ocidentais chegam aqui depois de terem virado a vida do avesso, decidem que já chega de mulheres ocidentais e acabam por casar com uma adolescente balinesa, doce e obediente. Eu sei o que eles pensam, pensam que aquela rapariguinha os fará felizes e lhes tornará a vida mais fácil. Mas sempre que isso acontece, tenho vontade de dizer a mesma coisa. Boa sorte. Porque a verdade é que continuam a ter uma mulher diante deles. E continuam a ser homens. Continuam a ser dois seres humanos a tentar viver juntos, por isso as coisas acabarão por complicar-se. E o amor é sempre complicado. Mas ainda assim os humanos devem tentar amar-se uns aos outros, querida. É inevitável ficar por vezes com o coração despedaçado. Significa que lutámos por alguma coisa.»


Recomendo surpreendido este livro porque a escrita é pessoal, lúcida e viva (e divertida, porque não?), e a experiência nele descrita mais íntima ainda. Uma obra de não-ficção de alguém que se questiona a cada linha. É possível ter a ilusão de que interagimos com a autora quando no fundo é através do acto de ler que reflectimos sobre coisas que nos aconteceram e a interacção dá-se com o que nos interessa e que representa uma espécie de destino universal: procurarmo-nos em nós e nos outros. Encontrarmo-nos e perdermo-nos pelo caminho. E assim repetidamente.

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