4.11.2012
Cobras e lagartos
Pierre (Pascal Greggory) chega à casa de férias onde Marion (Arielle Dombasle) se encontra de empréstimo com a prima mais nova Pauline (Amanda Langlet), e comenta que evita a companhia dela quando Henri (Féodor Atkine) está presente porque é alguém cujo carácter dissimulado lhe recorda uma serpente. Marion responde que ela sim se julga parecida com uma serpente, dado o seu muito elogiado corpo curvilíneo. Pauline à la Plage, filme de Eric Rohmer de 1983, passa-se no final do Verão início do Outono, mas é ainda da figuração de um possível paraíso terrestre que se trata. Da busca ou da espera do amor nesse cenário propício, onde a apetência para o lazer e a pouca roupa estimulam os sentidos. Rohmer parece destapar as pedras onde as serpentes se escondem, com a inteligência das imagens e dos diálogos. Os caminhos do amor estão abertos a todos. Os puros de coração devem ter atenção aos répteis que se lhes atravessam pela frente, sobretudo aqueles a coberto de uma aparência sedutora (como Henri ou Marion). Neste filme todos os adultos são cobras: nómadas do desejo, indecisos ou caprichosos. Apenas os jovens manifestam moral digna de aceder ao amor correspondido. Talvez por isso o adiem: na tentativa de se auto-preservarem. O amor é um sentimento que Rohmer coloca ao nível da natureza, das hortênsias de que Pauline cuida e que surgem em fundo e mais belas somente nos planos em que vemos a rapariga. É como se o paraíso lhe pertencesse em exclusivo, e ainda, e os répteis que por ali circulam de lá tivessem sido expulsos. Por Rohmer, evidentemente, que neste mundo de cinema quem manda é o "metteur en scène".
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