4.02.2012

Fria claridade














Um filme francês sem nada de especial que acaba tornando-se especial talvez por isso. Um Amor de Juventude, de Mia Hansen-Løve, abarca oito anos da vida de Camille e do seu amor por Sullivan, namorado da adolescência que regressa numa fase adulta para que se perceba que em idades diferentes os sentimentos são também diferentes mesmo que teimosamente neles queiramos ver um tempo que já passou. Um pouco à semelhança dos conceitos de claridade e escuridão de que falam as aulas de arquitectura do professor com quem Camille irá viver depois. A claridade que abre para o momento presente, ao passo que na escuridão se encerra a memória. Quando Camille reencontra Sullivan, a tentativa de recuperar o amor de juventude é marcada pelos anos que passaram entretanto. Ele não é a mesma pessoa (ou talvez nunca tenha deixado de ser a pessoa em que se tornou: num pulular constante de amor em amor, fugindo do compromisso, montado na mesma bicicleta em que a realizadora o filma em planos muito semelhantes apesar dos anos decorridos), e ela não poderá voltar a ser quem era, e isso fica evidente depois da segunda separação de Sullivan. A claridade que se anuncia no coração de Camille é agora mais fria: pelo tempo de recusa em deixar entrar um novo amor na sua vida, depois pelo envolvimento com o seu professor, pelo aborto espontâneo ocorrido no momento em que reencontra Sullivan, a história de Camille torna-se adulta ainda que ela queira ver-se ligada a um sentimento do passado. E o tempo passa e a história segue o seu curso, como todas as outras, e como o rio situado próximo da casa de férias dos pais de Camille, onde o filme se encerra em mais uma nota romanesca, tão discreta como as outras. O cinema de Mia Hansen-Løve, algures entre os modelos referenciais de André Téchiné e Eric Rohmer, é dos que ficam connosco.

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