6.11.2011

Os filmes e o nada
















Five Easy Pieces (1970), de Bob Rafelson, abre para uma década dourada do novo cinema americano. Veja-se o final deste filme. Na estação de serviço, aproveitando o afastamento da companheira que vai tomar café, Robert (Jack Nicholson) pede boleia a um camionista que se dirige para o Alasca, e de novo abandona todas as suas responsabilidades. Se retirássemos os curtos diálogos a esta cena, era puro Antonioni. Por esta altura Michelangelo Antonioni já havia realizado os filmes que definiram o seu modo de filmar: obras como A Aventura (1960), O Eclipse (1962) ou O Deserto Vermelho (1964). Isto é, uma espécie de psicologia intraduzível. Sentimo-la constantemente, sobretudo em relação ao protagonista, mas não conseguimos agarrá-la. Um pouco como nessa cena magistral em que Robert tenta explicar-se para o seu pai, que após ter sofrido o segundo AVC se encontra catatónico. Robert tenta mas pouco lhe diz, e o velho homem menos reage.
Ouvi falar a alguém que o cinema americano dos anos 70 caracterizava-se por mostrar aquilo que estava entre as cenas do cinema que fora feito até essa altura. Estávamos a caminho do nada, que é o que em derradeira instância caracteriza a nossa existência (a sua falta de sentido). Depois do nada as coisas do cinema só podiam caminhar para trás.

Arquivo do blogue