O único filme do sul-coreano Hong Sang-soo que conhecia antes de ver Hahaha (2010) era Noite e Dia (2008), cuja acção se passa em grande parte nas ruas de Paris, o que reforçava a afinidade que senti entre o cinema de Sang-soo e os clássicos da Nova Vaga francesa, Éric Rohmer em particular. Rohmer vem de novo à baila, e de que maneira, em Hahaha, que parte de uma conversa de dois amigos – um deles com viagem marcada para o Canadá – que acompanha todos os episódios vistos a partir daí. Crónicas na primeira pessoa da vida amorosa dos protagonistas, que dão a ver os clichés e o seu fundo de verdade. Hahaha é um filme falsamente frívolo. É aliás das mais perspicazes análises das flutuações amorosas que o cinema recente nos mostrou. Há românticos fatalistas deprimidos, populistas sentimentais que aprendem (em "sonhos") a dizer o que pensam que as mulheres gostam de ouvir (o que resulta umas vezes, outras não, como tudo na vida), mulheres inseguras que precisam de ver verbalizado o que eles sentem por elas, e tudo filmado com salutar ligeireza e apurado sentido de observação. Éric Rohmer foi mestre supremo na arte de problematizar as relações entre homens e mulheres, mostrando-os, a eles e a elas, como seres indecisos esvoaçando por entre incertezas e uma necessidade de auto-afirmação. Faz bem ver filmes como os de Rohmer ou de Hong Sang-soo, até para perceber que muitas coisas acontecem por uma questão de sorte e oportunidade. Em circunstâncias diferentes as duas mesmas pessoas podem ficar indiferentes uma à outra, ou apaixonar-se perdidamente. É uma evidência, eu sei. Mas uma evidência que temos tendência a esquecer como quase tudo o que ouvimos numa boa conversa.
Hahaha passou ontem na Cinemateca, na abertura do ciclo Hong Sang-soo e o Cinema da República da Coreia (até dia 24).