6.16.2011

Floresta iluminada







As variações de Manafon (2009) arranjadas e dirigidas por Dai Fujikura, onde sobressaem timbres e pizzicatos oriundos da formação de cordas, aproximam a música de David Sylvian de outro vulto enorme da canção contemporânea com o qual pressentíamos já intensas afinidades artísticas e de personalidade. Mas enquanto que Scott Walker levou a voz até uma espectralidade que a tornou quase irreconhecível à luz da primeira metade da sua obra (imensamente mais popular), a voz de Sylvian continua a ser a âncora que nos segura nas várias profundezas e tantas obscuridades ou clareiras do som produzido em total independência criativa na samadhisound, onde se estreou com o incontornável Blemish (2003).
Até à data David Sylvian não ousou trair o que muitos dão por sacramental: o timbre mais belo e definido de todos os seus discos, também o elemento mais reconhecível em todos eles, que tem na voz. Died in the Wool (2011) contém inúmeros factos sonoros relevantes que não o inferiorizam face ao material que constituiu Manafon, sua inspiração e fonte primeira de trabalho. Trata-se de uma obra notável coreografada com cordas, sopros e electrónicas (produzidas por Jan Bang ou Erik Honoré), que em nenhum momento perde de vista o sentido de serena orientação e presença espiritual que David Sylvian imprime àquilo que nele é cada vez mais dito, nunca deixando de ser cantado. [imagem: Christ the Prisoner (2007) de George Bolster]




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