5.07.2012
'Take Shelter', de Jeff Nichols (IndieLx 2012)
A primeira longa de Jeff Nichols chama-se Histórias de Caçadeiras (2007), teve estreia comercial no nosso país, e não guardo dela grata recordação. Cinema dito independente cheio de tiques do dito, todo em desaceleração (menos aborrecido que um mumblecore, no entanto), aridez narrativa e silêncios prolongados. Muita pose e pouca uva. Este Take Shelter arranca de forma bem mais promissora, só que quando dá o tiro este revela-se de pólvora seca. Edificado um objecto de suspense psicológico cruzado com filme de catástrofe iminente, para abusar no primeiro frustra-se as expectativas do segundo. E depois ter Michael Shannon a fazer uma caricatura do tipo de personagens em que com toda a justiça se notabilizou (entre as figuras do santo e do louco; ver exemplos em Bug, de William Friedkin ou Revolutionary Road, de Sam Mendes), também não contribui para o êxito do projecto. Nota-se uma evolução em Jeff Nichols, na forma como domina hoje em vez de exibir a linguagem cinematográfica, como sabe estabelecer uma atmosfera de inquietude nos espaços mental e exterior da principal personagem, conseguindo mudar para um registo "anónimo" nas sequências familiares ou profissionais que a ela se referem. Parece por vezes cinema americano da década de 70, executado por profissionais de menor nomeada como Bob Rafelson, quando a uma maior estilização se preferia a abordagem directa e discreta. Infelizmente outros sinais se vão acumulando para a criação de uma tensão crescente no espectador que dá em nada. E quando nada acontece (para finalmente parecer que vai acontecer), quando o final assume um tom profético, a coerência psicológica do protagonista, algo abalada, retira-lhe parte do impacto numa solução já de si forçada. Assim o cinema tivesse cheiro e Take Shelter deixaria no ar o cheiro a pólvora seca.
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