5.28.2012

Poesia




















Que bem que estávamos se todos os meses estreasse um filme como o sul-coreano Poesia (2010), realizado por Lee Chang-dong. Drama adulto, cheio de ramificações e implicações morais, filmado com uma serenidade e uma clareza que não se alteram independentemente da natureza de cada cena. O mais objectivo que é possível ser dentro da inescapável subjectividade que qualquer câmera de filmar pressupõe. Totalmente coeso mas não inteiramente conseguido, Poesia encaminha-se para a construção de uma história exemplar que tem algo de via sacra: a sexagenária do filme de Chang-dong, que coloca a sua vida ao serviço de outros (trabalha em limpezas domésticas, na assistência a pessoas acamadas, e tem ao seu cuidado um neto adolescente boçal) e que tem no curso de poesia a possibilidade de criar um espaço de beleza só seu e redentor, pertence à galeria de mulheres como Bess McNeill do Ondas de Paixão de Lars von Trier, que são levadas a extremos de sofrimento e despersonalização em nome da expiação do mal dos outros (onde não falta a cena da gratificação sexual). Elementos alguns escusados num filme que tinha a ganhar com uma riqueza (poética) menos ostensiva, mas isto é queixa que nasce da satisfação, que o filme é mesmo bom.

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