O que mais impressiona na curta-metragem Arena (2009), prémio máximo de Cannes, é que a partir do momento em que passamos do interior da casa do protagonista, um jovem que se tatua (Carloto Cotta) e que traz uma pulseira prisional no tornozelo, para o espaço exterior, parece que nos encontramos numa prisão a céu aberto, no que será possivelmente um comentário de João Salaviza em relação às habitações sociais, guetos que logo condicionam a situação social de quem lá vive. O resto é a mesma intuição para o cinema que já lhe reconhecia, colocando o corpo no centro de tudo (da acção), e confiando numa ideia de mise-en-scène mais que numa narrativa. Assim uma curta se fez maior.
Em Cerro Maior (2011) persiste o diálogo entre o cárcere e o espaço livre, que pode ser entendido como uma forma diferente de se estar encarcerado. É dos filmes de João Salaviza agrupados no DVD, aquele que talvez deixe a ideia de que algo ficou por cumprir, ou então que havia aqui matéria para maior duração, o que não é a mesma coisa. A razão é simples, prosaica, é dos compêndios. Começar um filme com alguém cria a expectativa de que é a história dessa pessoa que iremos acompanhar, o que no caso de Cerro Maior muda radicalmente a partir da visita de Anajara ao companheiro Allison, que se encontra detido. O filme passa a ser dele e fica-se com a sensação de que o que veio antes se esvazia de importância. Mas é finalmente Allison que se descobre fora de cena.
Sobre Rafa (2012) escrevi anteriormente e mantenho o que escrevi. Dos três o melhor.