5.15.2012

Até parece simples

























Assim que Downton Abbey se deu a conhecer ao mundo, logo começaram as comparações com Brideshead Revisited. Existe nas duas séries uma propriedade centenária para onde converge todo o simbolismo da época: na primeira temporada de Downton o período compreendido entre o desastre do Titanic e o início da Primeira Grande Guerra. O foco social debruça-se mais sobre a aristocracia em Downton Abbey , e exclusivamente sobre esta em Brideshead. Finalmente somos acolhidos por bandas-sonoras igualmente magnéticas, com qualquer coisa de elegíaco, em ambos os exemplos.
As equivalências terminam aqui uma vez que a matriz de Brideshead é ainda literária, ao passo que a "pluma" ágil de Julian Fellowes, que tudo comanda em Downton Abbey, apela às sensibilidades sofisticadas que apreciem um processo narrativo telenovelesco. Reconheça-se o efeito viciante de Downton Abbey. O maniqueísmo da distribuição de trunfos entre personagens que se afiguram à partida como sendo boas ou más. E o factor mais irresistível da série, e também o mais utópico, que tem por base as figuras moralmente mais fortes. Em Downton Abbey faz-se quase sempre justiça, penalizando os conspiradores e absolvendo as vítimas de intrigas.
Há uma rocha chamada Mr. Bates (Brendan Coyle), criado particular do duque de Grantham (Hugh Bonneville) que gere o património de Downton Abbey, que enfrenta com estoicismo as suspeitas e ciladas dirigidas ao seu carácter. Em minha opinião ele impera sobre Downton Abbey e relega para segundo plano as facilidades dramatúrgicas que são produto de uma destreza narrativa demasiado deste nosso século.

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