5.09.2012

Filmar tudo não basta




















A intenção de tudo filmar, Gonçalo Tocha (imagem) e Dídio Pestana (som) encarregam-se de tornar bem expressa por sobre os momentos iniciais de É na Terra Não é na Lua, trabalho de quatro anos (2007-2011) a quatro mãos que faz antecipar um ponto de vista partilhado, que a montagem final trai ao ceder a uma lógica de acumulação, que substitui ao encontro dos elementos da "equipa" com o que constitui a experiência de habitar e conhecer a ilha do Corvo (Açores), uma catalogação de factos e personagens. De notar também que a experiência de assistir a este documentário deixa de ser sobretudo da ordem do sensorial para se passar à inventariação de histórias e usos apresentados de forma não hierarquizada. Há mesmo situações que apenas servem de pontos de passagem para outros pontos de passagem, sem que se perceba do que é mostrado o que mais tocou as sensibilidades de Tocha e Pestana. O resultado global não deixa de ser positivo e Gonçalo Tocha "revela-se" um excelente operador de câmera. O Corvo um lugar suficientemente exíguo e exótico para manter desperto o interesse de quem vê o documentário, apesar da excessiva duração onde de novo não descortinamos forte propósito. Um bom trabalho. Pena que se tenha perdido o ponto de vista, tão mais necessário quanto filmar tudo não deve ser entendido com fazer equivaler tudo com tudo.

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