Foi impulsivo e também injusto da minha parte querer fazer equivaler um cenário de terapia a uma conversa franca e aberta. Na conversa que decorre da terapia, um dos elementos coloca-se no interior do que é dito ao mesmo tempo que procura ver de fora – analisando – a sequência do que é dito. A permeabilidade de Paul (Gabriel Byrne) em In Treatment não corresponderá a uma situação canónica tal como me descreveram ser o procedimento. Ele envolve-se demasiado com os relatos dos pacientes, que constantemente procuram implicá-lo nos seus problemas, quando não mesmo responsabilizá-lo em parte por eles. O trabalho de Paul reflecte-se no papel do espectador da série participativo (cuja fruição é activa e crítica) que se projecta no analista, e foi isso que eu procurei explicar à pessoa que me emprestou a caixa com a primeira temporada de In Treatment. É como se quando estou a vê-la, parte do meu cérebro esteja envolvida com a situação em curso (o lado emocional), enquanto a restante parte analisa o que acontece à luz da minha própria história (o lado racional). Nessa medida creio ter-me já projectado em todas as personagens masculinas: do terapeuta aos pacientes. Em ambos os lugares em que a série nos coloca. Nunca olhamos exclusivamente por dentro nem suficientemente de fora. Os dilemas de Paul, como o que ele vive quando Laura (Melissa George) regressa como de costume à terapia na 5ª semana, põem-nos a escutar a "voz do escravo" – que à semelhança de Paul fica preso na manipulação sedutora da mulher –, e a "fala do dono" que identifica o gesto manipulador e lhe resiste. E como olhamos literalmente de fora é-nos mais fácil a objectividade que o terapeuta algumas vezes não tem.
5.16.2011
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