5.11.2011

Cães ladrando lá fora

















Como é hábito vejo a série In Treatment com legendas em inglês. Não as ideais legendas puras e simples, mas legendas para surdos que incluem indicações sonoras. A mais curiosa na série, porque recorrente, diz "dogs barking outside". Já se deu a ocasião de a ler em situações ocorridas nos espaços de consulta de Paul e de Gina, a supervisora. No último episódio da 2ª semana, Paul e Gina debatiam a crise conjugal deste com Kate relacionando-a com a atracção que Laura, a paciente das segundas-feiras, confessara sentir pelo terapeuta. Hoje não tenho constrangimento de dizer que continuo a achar que muita gente faz terapia porque não consegue gerar situações que permitam ter conversas francas e abertas, no que constitui das experiências enriquecedoras que a vida proporciona. Conversas que ajudam a pensar. Claro que isto implica riscos, sobretudo quando os intervenientes são de sexos opostos. Sexos que se atraem.
Falamos para sermos ouvidos, do mesmo modo que escrevemos para que nos leiam. Há uma recompensa erótica sempre que somos notados ou reconhecidos. Ninguém é alheio a esse fenómeno e Gina refere que até grandes terapeutas se deixaram seduzir pelos pacientes. Pela ilusão do controlo e pela dependência criada, acrescento eu. Enquanto isso, em absoluta indiferença, os cães ladram lá fora. Como se uma lógica comum às diferentes existências se sobrepusesse às nossas pequenas vaidades.

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