A desatenção pode parecer óbvia – afinal a frase que promove a série refere que "he's listening" – mas foram precisos cerca de 20 episódios para me dar conta da importância da arte de saber escutar, no contexto de In Treatment. Parece-me decisivo ao resultado de qualquer terapia a confiança do paciente. Uma boa conversa (volto a penitenciar-me pela comparação grosseira) pressupõe uma confiança recíproca. Contamos coisas da nossa vida a alguém que nos confidencia coisas da sua vida também. Não entendo de outra forma em que não exista essa reciprocidade. Já no contexto da terapia contamos coisas nada sabendo da vida da pessoa que está do outro lado. Esse silêncio ou aparente neutralidade face àquilo que dizemos relativiza aquilo que dissemos, e quanto maior importância tiverem para nós os factos narrados, maior será o efeito da trama que se deslaça ou do obstáculo que se desfaz. Uma conversa em terapia talvez pressuponha a confiança sobretudo em nós, não tanto naquele que nos está a ouvir.
Um exemplo: quando Sophie (superlativa Mia Wasikowska) regressa à terapia após se ter "tentado suicidar" no gabinete de Paul, este recorda-lhe o momento em que começou a "amá-la" (palavras dele), e de como isso é definitivo para que alguém se torne seu paciente. Sophie é uma miúda de 16 anos; entenda-se o amor de Paul como um sentimento cristão. E conta-lhe que na primeira consulta Sophie olhara para a sua colecção de veleiros miniatura e dissera que se notava que ele gostava de barcos mas não sabia velejar, e que devia abrir uma janela redonda daquelas que os barcos têm, no seu consultório, para observar o mundo lá fora.
Ele está ali para ouvir e quando os outros reparam (fundo) na atenção que Paul lhes dedica sentem confiança nele, mas mais confiança sentem ainda neles próprios pelo cuidado que Paul lhes dedica. E aí a terapia verdadeiramente tem início. Cerca de 20 episódios depois.
Um exemplo: quando Sophie (superlativa Mia Wasikowska) regressa à terapia após se ter "tentado suicidar" no gabinete de Paul, este recorda-lhe o momento em que começou a "amá-la" (palavras dele), e de como isso é definitivo para que alguém se torne seu paciente. Sophie é uma miúda de 16 anos; entenda-se o amor de Paul como um sentimento cristão. E conta-lhe que na primeira consulta Sophie olhara para a sua colecção de veleiros miniatura e dissera que se notava que ele gostava de barcos mas não sabia velejar, e que devia abrir uma janela redonda daquelas que os barcos têm, no seu consultório, para observar o mundo lá fora.
Ele está ali para ouvir e quando os outros reparam (fundo) na atenção que Paul lhes dedica sentem confiança nele, mas mais confiança sentem ainda neles próprios pelo cuidado que Paul lhes dedica. E aí a terapia verdadeiramente tem início. Cerca de 20 episódios depois.