5.17.2011

Este é o meu sangue
















É provável que apenas de dois cineastas pudéssemos esperar um filme como Essential Killing. Um é Werner Herzog; o outro não imaginava que pudesse ser Jerzy Skolimowski. Por outro lado, o facto de se tratar de um realizador polaco ajuda a relacionar a dimensão alegórica do filme com a sua origem (o catolicismo tem grande expressão neste país). No início assistimos à captura do muçulmano interpretado por Vincent Gallo, algures nas montanhas de um hipotético Afeganistão. O homem é transportado para território do leste europeu onde em vão o interrogam. Nova mudança de cativeiro está na origem do acidente que lhe permite colocar-se em fuga. Daí até final, Essential Killing não tratará de outra coisa que a sobrevivência do protagonista. Todo o seu trajecto por um cenário de neve e gelo vai adquirindo contornos de narrativa cristã, em tom subversivo, porque vivenciada por uma personagem que professa outra fé. A Via Sacra do fugitivo conduzi-lo-á até à casa de uma mulher muda (a quase irreconhecível Emmanuelle Seigner), da qual víramos sair antes vários homens. Assim como do interior de uma outra casa se escutaram cânticos de Natal. Porque Skolimowski permite a leitura alegórica eu vejo nessa mulher uma variação da figura de Maria Madalena, que irá tratar dos ferimentos do muçulmano como se de Cristo se tratasse. Há depois no filme a conjugação do trabalho de câmara fortemente físico, subjectivo, que aliado à utilização do som e da música fazem de Essential Killing uma experiência sensorial mais ampla ainda. É uma obra que se joga totalmente no esperanto da linguagem cinematográfica, constituído como sabemos pela imagem e pelo som. Filme aberto a diferentes leituras de que ofereço apenas a minha.

Essential Killing foi mostrado na edição 2011 do IndieLisboa.

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